Título: PM é reconhecido por testemunha da chacina
Autor: Florença Mazza e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2005, Rio, p. A25

Apontados como participantes da chacina de Queimados e Nova Iguaçu, dois policiais militares do 24º BPM (Queimados) foram presos ontem em suas casas e um deles foi reconhecido por uma testemunha do crime. O soldado Fabiano Gonçalves, 30 anos, foi rapidamente identificado por uma pessoa que presenciou uma das ações do grupo. Ele estava em uma sala especial, misturado a um grupo sem relação com o caso. O delegado Roberto Cardoso, da 58ª DP (Nova Iguaçu), pediu a prisão temporária do policial. O outro PM preso, o cabo José Augusto Moreira Felipe, 32, não foi reconhecido, mas será mantido em prisão administrativa por 72 horas. No início da noite, foi preso também o policial identificado como tenente Assis, chefe do serviço reservado do 24º BPM e foi citado no depoimento de Fabiano como álibi.

Policiais civis e federais foram mobilizados, durante todo dia de ontem, para uma série de diligências sobre as investigações da chacina na Baixada. Na casa de José Augusto, foi apreendida uma pistola calibre 380, uma escopeta e uma motocicleta sem placa.

Os endereços dos dois policiais foram apontados por informações anônimas ao Disque-denúncia, que oferece recompensa de R$ 5 mil a quem fornecer pistas que ajudem a polícia a chegar aos autores da chacina. Até ontem à tarde, o serviço tinha recebido 206 denúncias. As buscas nas casas dos policiais foram desencadeadas em cumprimento aos mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça. Segundo policiais, os PMs são parecidos com os dos retratos-falados dos assassinos.

Os PMs estavam de licença e José Augusto tem um ferimento a bala em um dos braços. Ele justificou a lesão afirmando que foi vítima de uma tentativa de assalto há cerca de um mês. Os dois negaram participação na chacina e disseram que estavam em casa no momento dos crimes.

O secretário de Direitos Humanos, Jorge da Silva, disse ontem que o Estado vai incluir no Programa de Proteção à Testemunhas as pessoas que quiserem colaborar com as investigações.

- O programa já tem 58 protegidos e pode chegar até 100 pessoas. Também temos capacidade de levar as testemunhas para outro estado - informou o secretário.

Segundo Jorge da Silva, a secretaria de Direitos Humanos montará uma comissão especial composta por um coronel da polícia Militar e um delegado, além de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da defensoria pública para investigar grupos de extermínios.

- Sabemos que existe corporativismo na própria polícia, mas vamos fundo nas investigações até localizar os culpados - prometeu.

Membro da comissão de Direitos Humanos, o deputado Alessandro Molon (PT) afirmou que as investigações estão avançadas.

- O Ministério Público da Baixada está empenhado. Acredito que os responsáveis serão localizados em até 24 horas - comentou Molon.

O chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, requisitou ao 24º BPM (Queimados) 10 pistolas calibre .40 - semelhante a um dos tipos de arma usados na chacina - para serem submetidas a perícia. Existe a suspeita de que a chacina de quinta-feira esteja relacionada ao assassinato de dois homens na madrugada de terça-feira, na área do batalhão da PM de Duque de Caxias.