Título: Sem cargos, PP quer ser livre
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Fonte: Jornal do Brasil, 08/04/2005, País, p. A4

Partido avisa que não se subordinará ao Planalto

Folhapress

BRASÍLIA - Duas semanas após ter sido excluído da reforma ministerial do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o PP decidiu ontem, em convenção nacional, declarar independência em relação ao Planalto. O partido justificou a posição por não ter cargos no primeiro escalão do governo.

- Seremos da base aliada no que entendermos que seja possível votar, mas temos liberdade de votar contra - afirmou o líder do partido na Câmara, José Janene (PR).

O PP está em uma fase de auto-afirmação política, após a inesperada eleição de Severino Cavalcanti (PE) para a Presidência da Câmara. O ''efeito Severino'' - que não compareceu, já que está em Roma - provoca o inchaço da legenda: três senadores e quatro deputados federais estão de malas prontas para entrar no PP. O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), foi convidado para ingressar, com a promessa de ser candidato a presidente, mas ainda não respondeu.

A promessa de candidatura própria à sucessão de Lula deu a tônica nos discursos da convenção. O ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf foi um dos que a defenderam:

- Só perde eleição quem não disputa. Quem disputa sempre ganha - disse.

Reeleito para um novo mandato de dois anos à frente do partido, o deputado federal Pedro Corrêa (PE) lançou o nome de Severino para presidente e afirmou que o partido tem reclamado muito do corte das emendas que parlamentares do PP fizeram ao orçamento da União e que isso inevitavelmente o empurra para uma posição independente.

- Temos segmentos da oposição e do governo no partido. Hoje estamos independentes, amanhã podemos estar na base aliada ou na oposição. O futuro a Deus pertence - disse.

Corrêa foi reeleito apesar da opinião de deputados do Sul, que queriam passar o partido para a oposição.

O PT bem que tentou limitar a declaração de independência do PP, já que isso dificulta a composição de uma base de apoio no Congresso. Na convenção, o líder petista na Câmara, Paulo Rocha (PA), afirmou que o PP é um ''grande partido''.

- Fazemos votos de que possamos consolidar a parceria entre PT e PP, para desenvolver o país com distribuição de renda - disse.

Principal líder do PP por vários anos, Maluf foi alvo ontem de uma moção - que não foi votada - apresentada pela ala jovem do PP, pedindo seu afastamento da legenda. O motivo são as acusações de desvio de recursos públicos e a manutenção de contas no exterior.

- A democracia no nosso partido agradece o fogo amigo- respondeu Maluf.

Maluf tem perdido espaço em seu partido e a tendência é que seja apenas candidato à Câmara em 2006.