Título: Controladoria confirma o ataque dos 'vampiros'
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 08/04/2005, País, p. A5

Principais aliados do governo FH, liberais imitam ideário petista dos anos 80

Se por acaso algum desavisado entrasse ontem num hotel de cinco estrelas de Brasília, poderia muito bem se imaginar em mais um evento patrocinado pelo PT e seu ideário consagrado no início dos anos 80. Afinal os discursos eram fortes, a retórica, igualmente, cáustica e os alvos: a elevada carga tributária, o excesso de impostos, o desemprego e a alta dos juros.

Recobrado os sentidos, no entanto, o incauto perceberia que estava presente ao lançamento das bases econômicas que farão parte do futuro programa de governo do PFL. Partido há pouco tempo aliado preferencial do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, que estruturou o modelo tributário hoje alvo da sua ira.

Entusiasmados com a pré-candidatura de César Maia à Presidência da República, o partido reuniu um time de economistas para sedimentar as propostas na área econômica, que serão compiladas em um documento político elaborado pelo ex-ministro Gustavo Krause, e votadas no Congresso do PFL, marcado para os dias 19 e 20 de abril.

- Queremos mais empregos, menos impostos e um Estado mais enxuto - defendeu o presidente da legenda, senador Jorge Bornhausen (SC).

Bornhausen lembra a saia-justa em que foi colocado em abril de 2003, quando criticou o governo Lula. Recém-empossada, a administração petista gozava de ampla aceitação popular e parecia uma heresia atacar o governo federal. O pefelista ainda foi encostado na parede ao afirmar que a política econômica era idêntica à adotada pelos tucanos. Um dos presentes indagou: ''Se PSDB e PT são iguais, o que vocês, do PFL, têm para oferecer como alternativa''?

- Fui obrigado a concordar. Começamos a estudar e chegamos hoje, a esses conjuntos de propostas elaborados pelos economistas - declarou o presidente do PFL.

O PFL precisa, contudo, pavimentar o caminho entre a teoria econômica ideal e a realidade política e social brasileira. Ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel reconhece que, apesar de não ter jamais mudado sua convicções, é difícil assumir a mesma conduta de quando se é oposição, quando se tem cargo público. Um dos pontos mais criticados por Everardo, hoje consultor do PFL para redução da carga fiscal, é a emperrada reforma tributária encaminhada pelo governo ao Congresso:

- Querer consenso neste assunto é utopia, pois você cria um conjunto de contrariedades inadministrável. O que precisamos é unificar o ICMS e criar uma legislação federal. A arrecadação pode continuar nas mãos dos Estados.

O economista Cláudio Adilson Gonçalez, contratado para tratar do tamanho do Estado e do papel do governo na economia, criticou a política petista de inchar a máquina pública. Segundo ele, isso só serve para tornar os serviços ainda mais ineficientes.

- Você espanta investidores e não consegue resolver as demandas sociais - garantiu.

Os economistas também demonstraram incômodo diante da concentração de tributos nas mãos da União, do aumento excessivo de contribuições criadas pelo governo federal e da necessidade de vinculação de verbas orçamentárias para garantir repasses a áreas específicas, como saúde e educação. O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, defende o orçamento impositivo, mas reconhece que a atual estrutura brasileira dificulta essa prática. Segundo ele, como o Congresso infla as receitas do orçamento, a vinculação acaba sendo a única garantia para que o Executivo tenha recursos para determinados setores.