O Globo, n. 31471, 06/10/2019. País, p. 8

Bolsonaro recebe diretor da PF após indiciamento de ministro

Gustavo Maia


O presidente Jair Bolsonaro recebeu, no fim da tarde de sexta, o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, no Palácio do Planalto, em audiência que não estava prevista na agenda oficial. Segundo registro no site do Planalto, incluído posteriormente, o encontro ocorreu às 17h. Na manhã de sexta, a PF havia indiciado o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, pelo uso de candidaturas -laranja no PSL mineiro. No mesmo dia, ele foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral (MPE). Questionado na manhã de ontem, no portão do Palácio do Alvorada, sobre o teor da conversa, Bolsonaro disse que trataram de “tudo que você possa imaginar”.

— Trocamos informações de tudo que acontece no Brasil. Com ele, com o general (Augusto) Heleno (ministro do Gabinete de Segurança Institucional). Somos uma equipe unida —declarou. Segundo o promotor Fernando Abreu, do MPE de Minas Gerais, Álvaro Antônio era a “cabeça principal” de uma estrutura montada para desviar recursos do fundo eleitoral, utilizando candidaturas femininas de fachada para custear despesas de outros candidatos do partido.

O ministro do Turismo é o presidente do diretório do PSL em Minas. Na sexta, o porta voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, informou que Bolsonaro decidiu manter o ministro no cargo, apesar das acusações contra ele. Bolsonaro também mencionou, na tarde de ontem, “pressões” envolvendo outro de seus ministros: o titular da pasta de Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. O presidente afirmou, ao participar por transmissão de vídeo do 3º Simpósio Nacional Conservador em Ribeirão Preto, que suspenderá a campanha publicitária do pacote anticrime de Moro,lançada na sexta. Bolsonaro atribuiu a decisão à “pressão da esquerda”.

— A esquerda empilha você de processos para responder o tempo todo. Por exemplo, chegou mais um na minha mesa. Vou ter que suspender, junto com o Sergio Moro, a propaganda da lei anticrime —declarou. Deputados de oposição apresentaram requerimento ao Tribunal de Contas da União (TCU) para que a campanha fosse suspensa, sob o argumento de que as peças utilizam dinheiro público para “constranger o Congresso”.

A campanha, que custou R$ 10 milhões, cita pontos do pacote de Moro retirados pelo grupo de trabalho formado na Câmara, como a prisão após condenação em segunda instância. Após a análise do grupo de trabalho, o projeto será votado no plenário.

‘Tá com a sua mãe’

Pela manhã, enquanto cumprimentava apoiadores no portão do Alvorada, Bolsonaro rebateu com irritação um homem que lhe perguntou sobre o paradeiro de Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

—Tá com a sua mãe— afirmou o presidente. Flávio e Queiroz são alvo de procedimento investigatório do Ministério Público do Rio de Janeiro iniciado a partir de relatórios do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) — hoje Unidade de Inteligência Financeira (UIF). O órgão identificou movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz. As investigações foram suspensas após pedido da defesa de Flávio, em julho, contestando o uso de dados dos órgãos de inteligência sem autorização judicial prévia. O Supremo Tribunal Federal tem julgamento sobre o tema marcado para 21 de novembro.