O Globo, n. 31471, 06/10/2019. País, p. 11

Na contramão da Europa, partidos verdes perdem força no Brasil

Guilherme Caetano


Na contramão da onda verde que invadiu as últimas eleições europeias com a ascensão do bloco dos ecologistas, que passou de 52 para 74 cadeiras no Parlamento Europeu, os partidos brasileiros que têm essa bandeira ainda patinam para ganhar força na política. No Brasil, siglas como Rede e PV, que já tinham pequena representatividade, sofrem com baixas na Câmara dos Deputados.

A Rede, da ex-senadora Marina Silva, que tinha dois assentos na legislatura anterior, agora conta com apenas uma deputada federal, enquanto o PV viu a bancada na Câmara diminuir de cinco para quatro parlamentares. As siglas, no entanto, já traçaram uma estratégia conjunta para tentar superar a crise. O presidente do PV, José Luiz Penna, diz que a fusão com a Rede “está no horizonte”, mas que há um “longo caminho” até lá. Por enquanto, os partidos planejam alianças nas eleições municipais do ano que vem. O plano envolve também PDT e PSB.

A ideia é mapear o desempenho de candidatos dos quatro partidos em cidades importantes pelo Brasil. A legenda que tiver um candidato considerado competitivo deve ter o apoio das outras.

—Vamos andar juntos. É o fortalecimento de um novo campo, que não seja esse maniqueísmo que está posto aí. O Brasil espera uma terceira via que busque equilíbrio e a retomada civilizatória e democrática — diz Penna.

Ele diz não achar “nenhum absurdo” o fim das coligações proporcionais, a partir das eleições do ano que vem, e que vai trabalhar, no futuro, pelo voto em lista. Nesse sistema de votação, eleitores votam apenas nas siglas e não em candidatos. Segundo ele, é o “aperfeiçoamento natural da legislação eleitoral”.

A Rede não conseguiu superar a cláusula de barreira nas eleições do ano passado. Esse dispositivo foi criado para diminuir a quantidade de partidos no Congresso com baixa representatividade. Segundo a cláusula, os recursos do fundo partidário só serão distribuídos a partidos que obtiverem 1,5% dos votos distribuídos por nove estados ou nove deputados eleitos em nove estados. A saída para muitas siglas tem sido se fundir com outras.

Jovens promessas

Mesmo assim, Pedro Ivo Batista, porta-voz da Rede, nega que esteja nos planos do partido a fusão com o PV, mas reforça a sintonia programática: —Todos os nossos programas de candidatura vão inserir a questão do clima entre as propostas, adaptadas à realidade de cada um, é claro. Há diferentes problemas e soluções para Amazônia, caatinga, pantanal, cerrado. Enquanto Penna fala em “crescimento substancial” do PV em 2022, embalado pelas “preocupações ambientais que permeiam a nossa sociedade”, a Rede prefere não criar expectativas. Mas, para lideranças dos dois partidos, a repercussão de uma figura como Greta Thunberg, a ativista sueca de 16 anos que atraiu os holofotes na Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), no fim do mês passado, só tem a contribuir para o fortalecimento de suas siglas.

Cada qual tem suas jovens promessas na política, embora não tão novas quanto Greta. A deputada estadual Marina Helou (SP), de 32 anos, é destaque na Rede. Ela esteve em Nova York, na Cúpula do Clima, e foi convidada a dar palestras na Universidade Columbia e na Universidade de Nova York. Porta-voz da Rede na capital paulista, Duda Alcântara, de 30 anos, foi mencionada como destaque do partido.

Já no PV, Enrico Misasi é um expoente. Com apenas 24 anos, ele foi eleito deputado federal por São Paulo na última eleição.