Título: Vôo sem turbulência
Autor: Fernando Exman e Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 08/04/2005, Economia & Negócios, p. A19

Resultado operacional positivo faz Varig reduzir prejuízo em 95%. Executivo diz que empresa está pronta para capitalização

A Varig está operacionalmente pronta para passar por qualquer processo de capitalização, ou seja, a entrada de um novo investidor na companhia. A afirmação é do diretor de controladoria e relações com investidores da companhia, Ricardo José Bullara.

Ontem, a Varig divulgou o balanço referente ao exercício de 2004. A empresa fechou o ano com prejuízo líquido consolidado de R$ 87,17 milhões, 95,25% menor que o prejuízo de R$ 1,84 bilhão em 2003. A receita líquida da companhia aérea cresceu 11,43% em 2004 na comparação com 2003, somando, ao final de dezembro passado, R$ 8,86 bilhões. A Varig se beneficiou da desvalorização do dólar, que reduziu os custos com fornecedores, manutenção e leasing, embora o aumento dos preços dos combustíveis tenha elevado os custos em R$ 306 milhões em 2004.

Mas o que, segundo Bullara, qualifica a Varig para receber investimentos é o lucro operacional, que passou de R$ 335,59 milhões em 2003 para R$ 457,68 milhões no ano passado. Na avaliação dele, a companhia está bem e a capitalização depende de uma sinalização do setor público de como e quando as as questões pendentes com a Varig serão resolvidas.

O governo federal e as empresas estatais têm a receber da Varig cerca de R$ 3,58 bilhões, ou 63% do endividamento total da companhia. Já a Varig acredita que o governo deve pagar cerca de R$ 3 bi para reparar prejuízos em decorrência do congelamento das tarifas nos anos 80. A ação tramita no STF.

Bullara afirmou que a companhia deverá receber R$ 2,23 bi referentes a um crédito tributário por prejuízos fiscais, base negativa da contribuição social e diferenças temporárias. A Varig espera obter ainda dos governos estaduais (menos do Rio de Janeiro, onde a questão já foi resolvida) outros R$ 1,24 bi, referentes a créditos tributários, representados por ICMS a recuperar, constituídos entre 1996 e 2001 e provisionados em 2002. Esses valores poderão ser obtidos pela Varig se a companhia se tornar lucrativa e voltar a pagar os impostos devidos. Recebendo esses créditos, a Varig estima que o patrimônio líquido ficará positivo em R$ 26 milhões. Segundo o relatório de administração da companhia, o patrimônio líquido encerrou 2004 em R$ 6,44 bilhões negativos, ante os R$ 6,36 bi negativos em 2003.

O resultado financeiro consolidado da companhia piorou. Em 2004, a Varig teve despesas financeiras líquidas de R$ 569,65 milhões, crescimento de 275,40% em relação ao verificado no exercício anterior. O endividamento total da Varig somou R$ 5,68 bi em 2004.

Mesmo afirmando que a Varig tem todas as condições operacionais necessárias para se capitalizar, Bullara evitou estimar em quanto tempo esse processo se dará. De acordo com ele, a condução das negociações da capitalização da companhia é feita pela sua controladora, a Fundação Ruben Berta. Para o diretor, porém, como a empresa comprovou a viabilidade operacional, esse processo deverá ocorrer mais facilmente.

O analista Marcelo Ribeiro, da Pentágono Corretora, ressaltou que o ideal seria que a decisão sobre um possível novo investidor saísse antes do fim de junho. Ribeiro lembra que no mês que vem chega ao fim o compartilhamento de vôos com a TAM, o que pode afetar o resultado operacional da Varig, que fechou fevereiro com 31,14% de participação no mercado doméstico, segundo dados do Departamento de Aviação Civil.

- A decisão sobre o novo investidor deve ser rápida - disse o analista, que considera essencial a solução para salvar a empresa. - A companhia precisa de um aporte de capital. Mas acredito que no final os credores vão ter que perder alguma coisa para viabilizar a Varig.