Título: As dores da mídia global
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/04/2005, Internacional, p. A9

Com bilhões de espectadores comovidos no mundo, a morte do papa tem sido um desafio emocional para os profissionais de mídia. Uma experiente correspondente mexicana teve uma crise de choro ao vivo. As estações filipinas de TV despacharam as primeiras equipes de reportagem para o exterior desde os ataques de 11 de Setembro.

Na Hungria, a TV estatal demitiu seu diretor jornalístico por ter demorado demais para interromper a programação normal e fazer o anúncio da morte. O jornal alemão Bild retirou a foto de uma mulher de topless que geralmente aparece na capa dos 12 milhões de exemplares do periódico.

Mesmo em países nos quais a Igreja tem pouca influência direta, o impacto foi muito além do que se poderia esperar.

''A cobertura o tem representado como atleta, ator, um inimigo do totalitarismo, um viajante mundial, um poliglota, um pacifista, um penitente'', observou o diário The New York Times.

Mas alguns críticos vêem uma mídia enlouquecida com o papa, obcecada com a história da morte de uma celebridade e não com a de uma Igreja de 2 mil anos em plena encruzilhada.

''O funeral de sexta-feira será o de uma celebridade, assim como um evento religioso, e os líderes mundiais não querem nada mais do que estarem associados a isso'', criticou o colunista Martin Kettle no jornal britânico The Guardian.

Os canais do mundo árabe também cobriram o assunto exaustivamente, ainda que alguns tenham protestado:

- A mídia nos inundou com notícias sobre esse cruzado infiel, que junto com sua gangue no Vaticano permaneceu em silêncio sobre os massacres de muçulmanos - escreveu um colaborador de um site islâmico.

Porém, claramente, a maior parte das emoções da imprensa foi sincera. Até jornalistas mais experientes se deixaram envolver. Na emissora pública alemã ARD, por exemplo, a âncora Anne Will precisou lutar contra as lágrimas ao dar a notícia da morte num telejornal.