O Globo, n.31.627, 10/03/2020. Economia. p.18

Petrobras diz que aguenta preço baixo por 1 ano
Ramona Ordoñez
Gabriel Martins



No dia em que a Petrobras viu seu valor de mercado encolher em R$ 91,12 bilhões em razão da guerra de preços do petróleo, a companhia informou que tem capacidade de suportar a cotação baixa do barril por até um ano. Ontem, o Brent fechou com queda de 24,1%, a US$ 34,36.

Segundo a estatal, ainda é prematuro fazer projeções sobre os impactos estruturais no mercado de óleo e gás uma vez que ainda não estão claras a intensidade e a persistência do choque de preços. Ela atribui a capacidade de lidar com a queda no preço do barril a medidas implementadas em seu plano estratégico.

Ainda assim, a primeira leitura do mercado sobre o impacto da crise para empresas de commodities, como petróleo e minério de ferro, foi de pânico. Ontem, oito empresas listadas na Bolsa —Petrobras, Vale, Suzano, Gerdau, Klabin, Cosan, Metalúrgica Gerdau e Usiminas —acumularam perdas de R$ 141,05 bilhões. Somente Petrobras e Vale perderam R$ 126,9 bilhões. A interpretação dos analistas é que a guerra de preços entre os principais produtores de petróleo veio para intensificar um cenário já conturbado em razão do avanço da epidemia de coronavírus.

— O mercado ainda discute os impactos do coronavírus na economia. Foi uma bomba lançada em cima de uma fogueira — disse Danilo Cápua, sócio da Guelt Investimentos.

Para Maurício Pedrosa, estrategista da gestora Áfira, caso a crise do petróleo seja mantida, a Petrobras será uma das mais afetadas:

—A companhia tem alto endividamento (no fim do ano passado chegava a R$ 317,8 bilhões) —disse, acrescentando ver mais dificuldade para venda de ativos .— A Petrobras pode severo brigada ase desfazer de ativos por um preço menos vantajoso para a companhia.

Segundo Alexandre Calmon, sócio do Tauil & Chequer Advogados, um cenário de preços baixos afetaria o interesse dos compradores:

—Com tantas incertezas, esse sativos ficariam com menos liquidez, considerando a retração do apetite de potenciais investidores.

Nos cálculos de Marcelo de Assis, chefe de Upstream para América Latina da consultoria Wood Mackenzie, se os preços do petróleo permanecerem a US$ 35 o barril, as petroleiras terão perda da ordem de US$ 380 bilhões. Ele ressalta, porém, que, para que projetos sejam adiados, como os do pré-sal, seria necessário manter preços baixos ao longo de todo este ano.

Ainda não há consenso em relação a quanto tempo o barril pode permanecer no patamar atual,mas analistas dizem que, se for por um período prolongado, isso poderia inviabilizar novos projetos de expansão da produção de petróleo. Nocas odo Brasil, o valor médio que viabiliza projetos a partir doze rono pré-salé da ordem de US $45 o barril.

Para Décio Oddone, diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), um momento de forte baixa de preços tende a retirar do mercado produtores que trabalham com custo mais alto, como os de shalegas (gás não convencional) nos EUA. Oddone ressalta que os investimentos das petroleiras são feitos com foco alongo prazo, mas admite que aqueda no preço do barril é má notícia para a 17ª Rodada de Licitações prevista para o fim do ano (de pós-sal):

—Se essa crise for de meses não vai impactar de forma significativa projetos que estão encaminhados para a próxima década. Se durar anos, sim.