O Globo, n.31.626, 09/03/2020. Sociedade. p.19

Sem trégua

Eduardo Vanini 
Evelin Azevedo 


 

Seis novos casos confirmados de Covid-19 foram registrados ontem no Brasil. Há no país 25 pessoas com o novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde. Uma mulher de 42 anos se tornou a terceira pessoa no estado do Rio de Janeiro e a segunda na capital com diagnóstico da doença. Ela viajou para a Itália acompanhada de uma outra, de 52 anos, que já havia sido identificada como infectada pelo novo coronavírus na madrugada de sábado.

Segundo a Secretaria estadual de Saúde, a infectada mais recente apresenta estado de saúde estável e, por isso, está em isolamento domiciliar. O retorno da viagem aconteceu na última quarta feira, e os primeiros sintomas apareceram um dia após a chegada. Apenas um dos casos em todo o Brasil é considerado grave. É o de uma mulher também de 52 anos, internada no Distrito Federal. Segundo o ministério, ela tinha uma doença que agravou o quadro da Covid-19.

Até o momento, o Brasil não tem transmissão sustentada ou comunitária do vírus. Os quatro casos de transmissão local — três em São Paulo e um na Bahia — são de pessoas que tiveram contato com outras infectadas no exterior.

A paciente mais recente do estado do Rio apresentou sintomas na quinta-feira e procurou um hospital particular apresentando febre, tosse e congestão nasal. Uma amostra para análise foi coletada e deu positivo para o coronavírus. Não houve necessidade de contraprova porque o laboratório foi o mesmo que testou e confirmou o caso da madrugada de sábado e, com isso, foi considerado habilitado para diagnóstico.

“Reforço que, até o momento, continuamos sem transmissão ativa do vírus no Rio de Janeiro. Os casos confirmados até agora são importados. Permanecemos no nível zero do nosso plano de contingência”, afirmou o secretário de Estado de Saúde, Edmar Santos.

Autoridades e especialistas reforçaram a necessidade de colaboração da população na prevenção da doença, com hábitos de higiene e cuidados pessoais, como evitar aglomerações e estar atenta aos sintomas.

Dos seis novos casos, cinco são importados e um, de São Paulo, foi transmitido a partir do contato com um caso já confirmado, ou seja, é de transmissão local (quando o monitoramento consegue acompanhar a trajetória do caso). Ao todo, o Brasil tem quatro casos por transmissão local e 21 importados.

Segundo a pasta, há 663 casos suspeitos de Covid-19 sendo monitorados no país, e outros 632 foram descartados após exames laboratoriais testarem positivo para outros vírus respiratórios ou negativo para o novo coronavírus.

SÃO PAULO MAIS AFETADO

Os casos estão distribuídos por cinco estados, mais o Distrito Federal. São Paulo é o que tem mais diagnósticos positivos, 13. Em seguida vem o Rio de Janeiro, com três; Bahia com dois, sendo o segundo de transmissão local; Alagoas, Espírito Santo e Distrito Federal com um caso cada.

Segundo a Secretaria estadual de Saúde de Minas Gerais, a primeira paciente do estado é uma mulher, de 47 anos, de Divinópolis, que esteve na Itália. Ela tem sintomas leves e está em isolamento domiciliar. Já o paciente alagoano é um homem de 42 anos que voltou da Itália no dia 3 de março.

Os três novos casos de São Paulo estão estáveis e em isolamento domiciliar. Os pacientes têm histórico de viagem a Itália, Japão e um se infectou a partir de contato com pessoa com diagnóstico positivo para Covid-19, informou a secretaria estadual de Saúde de São Paulo.

O que se sabe sobre a Covid-19ar 2020

> Que cuidados todos devem tomar para evitar contrair o novo coronavírus?

Higiene é fundamental. É preciso manter limpas mãos e superfícies. Lavar as mãos com frequência, sempre que possível por mais de 20 segundos; usar álcool gel. Também se recomenda evitar tocar boca, olhos e nariz. Quando espirrar ou tossir, proteger o rosto com um lenço descartável e, na falta dele, com o cotovelo; evitar compartilhamento de talheres, toalhas, copos e objetos de uso pessoal, aglomerações e estar atento aos sintomas.

> Que cuidados de saúde pública são essenciais?

Especialistas dizem que é preciso ter leitos e equipamentos para atender imediatamente os casos mais gravese, assim, impedir mortes.

> Quais os principais sintomas?

Os sintomas variam de uma pessoa para outra. Mas é fundamental prestar atenção em febre, tosse seca e fadiga persistente. Quase a totalidade (98%) dos infectados têm febre e a ampla maioria (82%) sofre com tosse seca. A sensação de cansaço extremo acomete até 44% dos doentes. Os sintomas aparecem quase sempre de dois dias a duas semanas após a exposição ao vírus. Os dados são de cientistas chineses compilados pelo periódico Journal of the American Medical Association (Jama).

> Todos os infectados precisam ser internados?

Não. Mas precisam ser isolados e ter seus contatos próximos localizados e monitorados. A recomendação é de autoisolamento.

> Há garantia de assistência para as pessoas que precisarem ficar isoladas em casa e não possam trabalhar?

Não há ainda resposta oficial para isso. Essa tem sido uma preocupação de profissionais autônomos ou que vivem na informalidade e temem ficar retidos em casa e sem meios de se sustentar.