O Estado de S. Paulo, n. 46875, 18/02/2022. Política, p. A9

Bastidores: Presidente convida 100 pastores para o Alvorada

Vera Rosa 


 

Prestes a se tornar candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin já atua para ajudar o ex-presidente a atrair votos de líderes evangélicos insatisfeitos com o governo.

Alckmin tem se reunido com muitos deles, na tentativa de quebrar resistências ao petista, e promove forte investida sobre uma ala da Assembleia de Deus. Na contraofensiva, o presidente Jair Bolsonaro marcou um café com os cem principais pastores e bispos do País para 8 de março, no Palácio da Alvorada.

Candidato à reeleição, Bolsonaro tenta reaglutinar uma de suas principais bases de apoio, hoje bastante dividida, e mandar um recado político de que tem a maioria da cúpula das igrejas no momento em que o PT avança sobre esse segmento. A data do encontro com os evangélicos foi escolhida sob medida para se contrapor ao podcast e ao programa de entrevistas que o PT vai lançar nas redes sociais, também em março. As duas iniciativas são destinadas a esse público.

Foram convidados para o café da tarde com o presidente líderes da Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Igreja Quadrangular, Renascer em Cristo, Sara Nossa Terra, Fonte da Vida, entre outros.

Alckmin, por sua vez, telefonou no início do mês para Samuel Ferreira, presidente da Assembleia de Deus do Brás – que integra o Ministério de Madureira – e deve se reunir com ele nos próximos dias. Católico fervoroso, Alckmin tem bom relacionamento com a cúpula das principais igrejas desde que era governador e procura fazer a ponte para reaproximar Lula dos evangélicos. Além disso, o ex-tucano vira e mexe se reúne com pastores do "baixo clero" numa padaria do Morumbi, na zona sul de São Paulo, transformada numa espécie de escritório da pré-campanha.

Embora ainda esteja sem partido – mas em negociação com PSB e agora com PV –, Alckmin pode ser fotografado ali toda semana, despachando e ouvindo sugestões para a confecção de um programa de governo.

"Eu sempre vi o Alckmin como um líder importante, mas esse casamento de jacaré com cobra d'água vai fazer com que ele passe toda a campanha se explicando para o eleitorado", disse o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, numa referência à aliança com Lula. Sóstenes é ligado ao pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que apoia Bolsonaro. O deputado assumiu o comando da bancada evangélica no último dia 9, após um racha envolvendo justamente as duas alas da Assembleia de Deus.  

Repórter especial em Brasília