Título: André Luiz faz campanha contra cassação
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 14/04/2005, País, p. A6

BRASÍLIA - O deputado André Luiz (sem partido-RJ), que ganhou mais uma semana de sobrevivência política, opera nos bastidores para tentar escapar da degola. Na segunda, encaminhou carta para todos os parlamentares dizendo-se injustiçado pelos integrantes do Conselho de Ética. Ontem, os parlamentares começaram a receber e-mails de supostos eleitores do deputado fluminense, tentando sensibilizar os deputados quanto à ''importância de André Luiz para a Zona Oeste do Rio''. - Alguns colegas meus que me conhecem estão ajudando a conversar com os deputados. Também tenho ligado para alguns deles - garantiu o deputado André Luiz.

O parlamentar fluminense foi ontem ao plenário na expectativa quanto à votação do relatório do deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). Fruet pediu a cassação de André Luiz por quebra de decoro parlamentar por ter sido flagrado, em uma fita de áudio, pedindo R$ 4 milhões para proteger o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O advogado de Cachoeira gravou a conversa e o bicheiro foi citado no relatório final da CPI da Assembléia Legislativa do Rio.

- Eu vim aqui também na terça. Mas, pelo jeito, não será votado mesmo esta semana - disse André Luiz, com sorriso no rosto.

O deputado voltou a dizer que vem sofrendo linchamento moral. Por diversas vezes, ao longo do inquérito, André Luiz ameaçou apresentar fitas e documentos contra outros parlamentares, dizendo que, se cair, ''não cairia sozinho''.

O Conselho de Ética da Câmara divulgou ontem uma nota oficial negando a versão de André Luiz e alegando que todos os procedimentos de defesa foram adotados. Gustavo Fruet acrescentou que André Luiz não entra no mérito do assunto - a sua inocência ou culpabilidade - discorrendo apenas quanto aos prazos e procedimentos adotados durante as investigações.

- É curioso, ele não contesta a acusação em nenhum momento. Apenas alega que não teve chance de defesa - constatou Fruet.

A pedido de cassação de André Luiz ainda não foi votada por conta de oito medidas provisórias que trancam a pauta, além de um projeto com urgência constitucional. Enquanto a pauta não estiver liberada, não há como votar a cassação.

Fruet também demonstra preocupação quanto ao quorum necessário para se votar o processo. Segundo ele, por ser voto secreto, é fundamental uma margem de segurança para apreciação do assunto.

O ideal seria, na opinião do parlamentar paranaense, manter em plenário um quorum para aprovação de emenda constitucional. As PECs não são colocadas em votação com menos de 490 deputados em plenário.

- É possível que ele consiga uns 100 até 150 votos. Com um quorum reduzido, as coisas se complicam - declarou Fruet.