Título: Álibis de PMs começam a cair
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/04/2005, Rio, p. A14
Dono de bar confirma que matadores se reuniram para beber antes de praticarem crimes na Baixada Fluminense
A rede de falsos álibis formada pelos policiais acusados da chacina na Baixada Fluminense, no dia 31 passado, começou a ruir. Em depoimento na Delegacia de Homicídios da Baixada (DHB), na noite de terça-feira, o dono de um bar confirmou que cinco dos PMs suspeitos estiveram no estabelecimento na noite do crime. Entre os reconhecidos, pelo menos o cabo do 24º BPM (Queimados), José Augusto Moreira Felipe, e o soldado do 20º (Mesquita), Carlos Jorge Carvalho, tiveram o álibi desmentido pelo depoimento. Os dois, segundo a polícia, disseram que naquela noite do dia 31 não haviam saído de casa. O bar, que fica a 200 metros da sede da Polícia Federal, no centro de Nova Iguaçu, serviu como ponto de encontro para o grupo antes do início da chacina. Dali, eles seguiram para o bairro da Posse, onde iniciaram a matança. Além de Felipe e Carvalho, os policiais Marcos Siqueira Costa, Júlio Cesar Amaral de Paula e Fabiano Gonçalves Lopes também estiveram no bar.
- O depoimento foi importante porque o dono do bar, além de reconhecer os policiais, derrubou os álibis de alguns deles - afirmou o delegado titular da 58ª DP (Posse), Roberto Cardoso.
O bar Águia Branca, localizado na Rua Dom Walmor, fica a menos de cinco quilômetros da Rua Gama, na Posse, onde ocorreram as primeiras mortes da chacina. De acordo com as investigações, o grupo chegou ao estabelecimento por volta das 16h. Ali, os policiais ficaram bebendo e conversando até as 20h, quando seguiram para a Posse. O único a deixar o local antes foi o soldado do 24º BPM Fabiano Gonçalves Lopes.
Dono do bar, Calvino Simões, 61 anos, não quis comentar sobre o depoimento. Ele disse apenas que o teor do depoimento dado na 58ª DP foi o mesmo do prestado à Polícia Federal (PF), dias atrás. Calvino, no entanto, ficou irritado ao saber que a polícia havia divulgado informações sobre seu depoimento, que estaria sobre sigilo.
- Eu prestei um serviço e hoje corro risco de vida. Não vou sair daqui, onde estou há 16 anos. Eu sei que um dia eu vou morrer mesmo - desabafou Calvino.
Ele contou que após prestar depoimento à PF, o delegado Marcelo Bertolucci lhe ofereceu proteção, ao contrário da Polícia Civil.
- Eu não aceitei porque eu teria que ir para outro estado com a minha família - afirmou o dono do bar.
A mãe de Mara Valéria, desaparecida com o filho Enil Fagundes Neto desde dezembro, não compareceu na 58ª DP para fazer o reconhecimento oficial de parte das jóias da filha que foram encontradas na casa da ex-mulher do soldado Júlio Cesar Amaral de Paula. O PM é um dos 12 acusados de participação na chacina. Uma outra parte das jóias de Mara já havia sido encontrada na casa de Carlos Jorge Carvalho.