O Globo, n. 31474, 09/10/2019. Opinião, p. 02

Ministro do Turismo é desafio ao presidente



Desde que surgiram as primeiras evidências de que o ministro do Turismo se beneficiara de desvios de dinheiro público na campanha eleitoral, Marcelo Álvaro Antônio começou a se transformar naquilo que o candidato Jair Bolsonaro prometera combater se chegasse ao Planalto.

Na sexta-feira passada, o Ministério Público de Minas Gerais, estado pelo qual Marcelo Álvaro Antônio, filiado ao PSL, se reelegeu deputado federal, o denunciou por esses desvios.

Bolsonaro ficou em silêncio. Apenas o porta-voz, Otávio do Rêgo Barros, informou que o presidente resolveu “aguardar o desenrolar do processo”, e mantê-lo. No governo, ouviu-se a clássica justificativa para o imobilismo dada em várias administrações passadas: nada está provado, não podemos prejulgar.

Dessa forma é que autoridades acusadas de corrupção são preservadas nos cargos e continuam reverenciadas em seus partidos, de direita ou esquerda, com raras exceções. Infelizmente, não se segue o exemplo do presidente Itamar Franco de ter afastado o amigo e Chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, devido a uma denúncia. Confirmada a improcedência, Hargreaves reassumiu.

A veracidade da trama em que o ministro de Bolsonaro esteve envolvido nas eleições é reforçada por depoimentos de pessoas que foram usadas ou se deixaram usar pelo esquema.

O golpe se dava por meio do lançamento de candidatas laranjas — para cumprir a cota de gênero estabelecida pela legislação eleitoral —, que deveriam devolver a totalidade ou a maior parte do dinheiro recebido do partido para financiar supostas campanhas. Contra o ministro, presidente do PSL mineiro, há a denúncia de que ele foi um dos beneficiários do roubo.

O recursos, seguindo as técnicas de “lavagem”, serviram para pagamentos fictícios a gráficas ou outras empresas indicadas pelo grupo de Marcelo Álvaro Antônio.

Candidatas laranjas também apareceram em outros estados e contribuíram para azedar o relacionamento entre Gustavo Bebianno e a família Bolsonaro, causa da demissão do expresidente do PSL e ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

Oriundo do baixo clero da Câmara dos Deputados, onde esteve por 28 anos, Jair Bolsonaro se apresentou ao eleitorado como o “novo”, o político sem vícios da “velha política”. Um deles, o acobertamento de malfeitos.

O presidente não tem sido ajudado pela sorte. Porque, quando o caso das esquisitices financeiras do filho Flávio Bolsonaro, senador fluminense pelo PSL, e do seu chefe de gabinete na Alerj, Fabrício Queiroz, parecia ter ficado sob controle, vem a denúncia contra um dos seus ministros.

Flávio Bolsonaro à parte, a história das manobras do grupo de Marcelo Álvaro Antônio para drenar o Fundo Eleitora lé grave obast antepara que o presidente o afaste.