Título: Ligações suspeitas
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/04/2005, Rio, p. A14

Suspeito de ter ligação com os policiais militares acusados da chacina na Baixada Fluminense, Robson Simões negou que tivesse emprestado ao grupo a casa em Queimados que seria utilizada como cativeiro para extorsão a caminhoneiros. Filho de Calvino Simões, dono do bar onde cinco dos acusados da matança se reuniram no dia dos assassinatos, Robson prestou depoimento ontem por mais de três horas. - Ele negou, mas vamos investigar. Eles são amigos - afirmou o delegado - garantiu o delegado da Delegacia de Homicídios da Baixada (DHB), Rômulo Vieira.

Robson, também conhecido como Binho, deixou a delegacia escondido por seu advogado. Seu pai não quis falar sobre a suspeita de envolvimento do filho com os PMs acusados da chacina. O rapaz também trabalha no bar onde cinco policiais estiveram reunidos no dia do crime.

- Estamos aqui há 16 anos e conhecemos muita gente - afirmou Calvino.

Ontem, em reunião no Tribunal de Justiça de Nova Iguaçu, o promotor de justiça do Tribunal de Júri da cidade, Marcelo Muniz, afirmou que o Ministério Público Estadual (MPE) vai oferecer denúncia contra os acusados da chacina da Baixada Fluminense até o final deste mês.

- Já olhamos as provas recolhidas pela polícia até agora e acreditamos que é grande a possibilidade dessa denúncia ser entregue ainda em abril - afirmou Muniz, após reunião com os responsáveis pela investigação da chacina no inquérito aberto pela Polícia Federal (PF).

O inquérito, segundo afirmou, já está bem adiantado e todas as informações vêm sendo repassadas à Polícia Civil do Rio. Ontem, também foram encaminhadas pela PF cinco armas para perícia. Apesar da afirmação do promotor, o delegado Rômulo Vieira acredita que as investigações podem ser mais aprofundadas.

- Acredito que temos o suficiente para oferecer denúncia, mas podemos avançar mais - ressaltou Vieira.

A preocupação de Muniz é com o prazo de 30 dias das prisões temporárias dos 11 policiais suspeitos da chacina decretadas pela Justiça. De acordo com o promotor, a maioria vai terminar no início de maio e, por isso, a denúncia do MP não pode demorar. Se isso ocorrer, explicou Muniz, os policiais terão que ser colocados em liberdade.

A existência de dois inquéritos para investigar a chacina - um aberto pela PF e outro, pela polícia do Rio - passou a ser uma preocupação de deputados que integram a Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembléia Legislativa do Rio). Ontem, o presidente da comissão, deputado Geraldo Moreira, se reuniu com representantes da PF, entre os quais o superintendente do órgão no Rio, Roberto Prel. Membros da comissão temem que os inquéritos paralelos levem à divergência nos rumos das investigações.

No encontro, no entanto, foi descartada a possibilidade de unificação dos inquéritos, uma vez que as investigações encontram-se em nível avançado, o que inviabilizaria a união.