O Estado de S. Paulo, n. 46878, 21/02/2022. Economia & Negócios, p. B1

Plano de saúde individual na berlinda

Fernanda Guimarães
Shagaly Ferreira


A polêmica operação de transferência dos planos individuais da Amil para um grupo liderado pela gestora Fiord – suspensa pela Agência Nacional de Saúde (ANS) – chamou a atenção para um nicho específico de planos de saúde que vem perdendo cada vez mais espaço e deixando clientes apreensivos: o dos planos individuais. Além dos 337 mil beneficiários da Amil, que ainda não sabem se seu atendimento será ou não repassado a um terceiro sem tradição no setor, há outros 8,6 milhões de planos individuais no País.

Esse é um negócio que, em geral, não é mais atrativo para as gigantes do setor, por conta da regulação mais forte da ANS. O reajuste dessas carteiras é determinado pela Agência – em 2021, por exemplo, a regra era que as mensalidades fossem reduzidas em 8,19%. Nos planos coletivos, o aumento é definido pela operadora, de acordo com a “sinistralidade” da carteira – quanto mais um determinado grupo utiliza, maior o valor.

Por isso, muitas operadoras abandonaram os contratos individuais. Mas quem já tinha esse serviço tem direito a manter o atendimento. E, como esses clientes vêm envelhecendo e, consequentemente, necessitando de mais serviços, a operação acaba ficando mais onerosa.

Entre os clientes da Amil, o clima é de apreensão. Tanto que uma associação de defesa está sendo criada. “Esse ambiente hostil foi determinante para a resistência”, diz a advogada Vanusa Murta Agrelli, que coordena a montagem.

O grupo inclui Neusa Grolla Barbosa. Ela é mãe de Guilherme Barbosa Ribeiro, que tem paralisia cerebral. Quando ele nasceu, em 1992, a família tinha plano da Golden Cross, mas foi para a Amil justamente por causa da piora do atendimento. “Meu filho passa no Hospital da AACD, em São Paulo. Quando fiz esse convênio, foi um dos requisitos. No meio do ano passado, quando fui marcar consultas, me disseram que o plano do Guilherme, o Blue 300, tinha sido descredenciado”, lembra.

Diretor de Direito Civil da USP, José Fernando Simão afirma que a mudança de prestador de serviço precisa ser avisada previamente ao contratante. Já a ANS frisa que as operadoras têm o direito de vender suas carteiras de beneficiários, “desde que cumpram o rito previsto na regulamentação”.

A United Health, dona da Amil, afirma ter compartilhado com a ANS “medidas implementadas para melhoria da experiência dos beneficiários de planos individuais transferidos da Amil para a APS (a empresa criada pela Amil para receber os planos individuais e que será repassada à Fiord).”