Correio Braziliense, n. 21380, 29/09/2021. Cidades, p.14 
 
Violência muda rotina escolar no CED 11 

Ana Isabel Mansur 
 
 
A escola deve ser um ambiente acolhedor e livre do medo. Infelizmente, no Centro Educacional 11 de Ceilândia (CED 11), a sensação de insegurança é constante desde o assassinato do estudante Geoffrey Stony Oliveira do Nascimento, de apenas 16 anos, há uma semana, nas proximidades do colégio. O adolescente foi morto com um tiro no peito após um assalto enquanto esperava o pai buscá-lo depois das atividades escolares. 

O diretor Francisco Gadelha conta que a demanda por atendimentos pedagógicos cresceu muito nos últimos dias. "O clima é de tristeza, esse tem sido o assunto na escola, todos ainda comentam, mas estamos tentando superar e seguir em frente. O setor de orientação educacional está sendo muito procurado pelos alunos. Muitos estão revoltados e querem mais segurança, que nosso ato não seja lembrado apenas como um momento bonito", pediu o diretor, citando a homenagem que a comunidade escolar fez a Geoffrey, na segunda. 

O educador relatou que não só os alunos estão com medo. "Muitos pais não querem deixar os filhos irem às aulas, e pedem para que eles acompanhem as aulas remotamente. Com a pandemia, metade da turma vem presencialmente em uma semana e o restante, na semana seguinte. Mais de 50 pais pediram para aderir às aulas a distância integralmente, não por medo da covid-19, mas pela falta de segurança", pontuou o diretor. 

Desde a trágica morte de Geoffrey, Francisco tem observado que as rondas policiais aumentaram na região e o policiamento, tanto nos arredores quanto na escola, tem sido mais frequente. "Tomara que isso perdure, não fique apenas por uma ou duas semanas. Não adianta ter policiamento só na região da escola, muitos alunos vão andando para casa e percorrem até 3km", frisou. 

Segurança 

Desde 1989, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) tem o Batalhão Escolar, iniciativa pioneira no Brasil. Segundo a corporação, a unidade atua em todas as escolas e faculdades públicas e particulares do DF, à exceção do câmpus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB), que é de responsabilidade do 3º Batalhão da Asa Norte. O Correio pediu à PMDF os dados das operações do batalhão dos últimos três anos, a título de comparação, mas não obteve resposta. Na semana do assassinato de Geoffrey, o diretor da escola lembrou que o batalhão que atendia a escola tinha sido desativado. 

A PMDF afirmou à reportagem que a unidade atua em cerca de 1,3 mil instituições de ensino, desde creches até universidades. "O batalhão realiza o policiamento ostensivo e preventivo com a aproximação e a antecipação do crime dentro do ambiente escolar. Entre agosto e setembro de 2021, mais de 500 crianças com idades entre 11 e 14 anos foram contempladas com o Programa de Prevenção ao Uso e Tráfico de Entorpecentes (Proerd)", informou, por meio de nota. A corporação ainda esclareceu que o professor Alexandre Bernardi de Figueiredo, vítima de bala perdida na Escola Classe 10 de Ceilândia Norte há 20 dias (veja mais em Memória) "estava no ambiente escolar, mas o disparo veio de um lugar desconhecido." Quanto ao caso de Geoffrey, a polícia explicou que o estudante "foi vitimado em local a mais de 2km da escola" e que os "autores foram presos pela Polícia Civil, cabendo ao Judiciário, dentro do que é regido por lei, julgar o caso." 

Procurada pelo Correio, a Secretaria de Educação do DF afirmou não manter dados de casos de violência nas proximidades das escolas.