Correio Braziliense, n. 21382, 30/09/2021. Política, p. 2 
 
Tumulto e tensão estavam no radar 

 
 
Antes mesmo de começar, o depoimento de Luciano Hang era visto com reservas por integrantes da CPI da Covid. Nos bastidores da comissão, a decisão de chamá-lo partiu do relator Renan Calheiros (MDB-AL) e foi tomada sobretudo depois do comparecimento de Pedro Benedito Batista Júnior, diretor-executivo da Prevent Senior, na semana passada. Foi ele que admitiu que a citação à covid-19 era retirada dos prontuários de pacientes que morriam devido à doença e que uma dessas vítimas seria Regina Hang, mãe do empresário. A preocupação era dar ribalta para o dono de uma rede de loja de departamentos passar ideias que se conflitam com aquilo que a ciência já confirmou. 
Antes de começar a CPI, Renan deu a entender de que a sessão seria tensa e repleta de provocações — embora tenha, na introdução que fez antes das perguntas, classificado Hang como "bobo da corte". "É um depoimento normal, como qualquer outro ele vai ter que se adequar às regras da CPI. Esse tipo de personagem sempre existiu na história do Brasil. Não é incomum que exista hoje. É uma espécie de bobo da corte, que vive da sabujice eterna para prestar serviços ao poder e ganhar dinheiro. Ele tem envolvimento óbvio nas fake news, nos impulsionamentos, no patrocínio e no incentivo à mentira. Ele tem envolvimento óbvio no gabinete paralelo, como negacionista que é", explicou o relator. 

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) afirmou que o espetáculo de ontem poderia acontecer. "CPI não tem que defender o governo e nem ninguém, deve apurar os fatos. Já era esperado isso aí. Quem chamou sabia que ia acontecer isso", salientou. 
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) admitiu que o depoimento de Hang acrescentaria pouco e frisou que todos os fatos relacionados ao empresário estão documentados. "Nós tivemos, ontem (terça-feira), um depoimento bombástico (o da advogada Bruna Morato, que defende um grupo de médicos que faz várias acusações à Prevent Senior), importante para o esclarecimento do que aconteceu durante a pandemia. Esse de hoje (ontem) iria acrescentaria pouca coisa. O que poderia vir a mais?", indagou. 
Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE) — que acusou um dos advogados de Hang de tê-lo desacatado, tumulto que suspendeu os trabalhos da CPI por aproximadamente 40 minutos —, "o que importa são dados e o cinismo do Hang depõe contra ele. Muito cínico, muito sarcástico. Só vai reforçar a presença dele como investigado". 

Sobre o entrevero entre ele e um dos defensores de Hang, o petista explicou. "Estava pedindo questão de ordem e o advogado interrompeu, levantou, botou o dedo em riste. O advogado não tem que se manifestar em uma CPI. Ele tem que dar conta do paciente dele. Uma falta de respeito total e absoluto pelo vigor do rito processual. Eles estavam faltando com decoro ali. O advogado era quem falava no lugar do depoente, puxando o microfone", explicou. (TA e RF) 

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