O Globo, n. 31511, 15/11/2019. Economia, p. 24

Fitch reafirma nota do Brasil, mas alerta para risco a reformas


A agência de classificação de risco Fitch manteve ontem a nota de crédito do Brasil em BB-, com perspectiva estável, e ponderou que uma melhora segue limitada por fatores como elevado endividamento público, rígida estrutura fiscal e um Congresso “fragmentado”. Segundo a agência, o cenário político dificulta o progresso das reformas.

“Muitas dessas propostas envolvem mudanças na Constituição e diluição, atrasos e cortes em certas reformas não podem ser descartados. As perspectivas para a cooperação entre o Legislativo e o Executivo para as reformas não são claras, enquanto a priorização relativa e a sequência de reformas podem mudar”, disse a agência.

A Fitch avalia que as propostas de emendas constitucionais (PECs) apresentadas ao Congresso são positivas, mas vê um caminho árduo na tramitação:

“A falta de uma base estável e confiável do governo Bolsonaro no Congresso pode dificultar e impor mais tempo às reformas, principalmente as que exigem emendas constitucionais. As eleições municipais em outubro de 2020 também podem reduzir a janela de reformas”.

A agência destaca a capacidade do país de absorver choques externos e as reservas internacionais robustas. Em contrapartida, ressalta que a dívida bruta já ronda os 79% do Produto Interno Bruto (PIB) e pode subir mais.

A turbulência na América Latina também atrapalha, segundo Christopher Garman, da consultoria Eurasia:

— O cenário não é salutar e contamina o Brasil. A expectativa sobre a segunda sequência de reformas do governo, que era pequena, ficou menor com essa situação. Há ceticismo.

Ontem, a crise política no Chile pressionou o câmbio no Brasil, levando ao terceiro aumento seguida do dólar. A divisa encerrou em alta de 0,17%, a R $4,193, na segunda maior cotação já registrada.

A Fitch retirou o grau de investimento do Brasil no fim de 2015, quando a nota foi diminuída de BBB- para BB+. De lá para cá, a nota sofreu outros dois rebaixamentos, até chegar ao nível atual de BB-.

Semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, estimou que o país reconquistará o grau de investimento já em 2020, na esteira das reformas.