O Estado de S. Paulo, n. 46881, 24/02/2022, Política, p. A10

Presidente diz que vencerá 'guerra' com o TSE

Vinícius Valfré
Lauriberto Pompeu 


Diante de uma plateia de investidores e empresários, o presidente Jair Bolsonaro insinuou ontem que pode não aceitar o resultado das eleições, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saia vitorioso. Ao participar da CEO Conference 2022, promovida pelo banco BTG Pactual, Bolsonaro atacou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e propostas do PT. Exaltado, o presidente afirmou que "só Deus" o tira da cadeira no Palácio do Planalto e, mais uma vez, lançou dúvidas sobre o sistema eletrônico de votação.

Com o tom de voz elevado, Bolsonaro listou uma série de medidas, que, na sua avaliação, serão tomadas se Lula vencer a disputa, como revogação do teto de gastos e da reforma trabalhista. "É isso que nós queremos para o Brasil? Dá para deixar tudo rolar numa boa, quem chegar, chegou?", questionou. "Tudo bem, ninguém vai sofrer nada com isso, a economia vai continuar numa boa", ironizou ele, que estava acompanhado dos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Paulo Guedes (Economia).

Ministros. Bolsonaro subiu mais uma vez o tom contra os ministros do STF Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, que assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na terça-feira. "Nós precisamos de paz para ter liberdade. Não vai ser o chefe do Executivo que vai jogar fora das quatro linhas (da Constituição), mas, por favor, não vocês, mas dois ou três no Brasil, não estiquem essa corda", disse.

Derrotado pelo Congresso ao propor o voto impresso, no ano passado, Bolsonaro afirmou que o sistema eleitoral, como está, é "fraudável". Horas antes, em cerimônia no Palácio do Planalto para lançar a carteira nacional de identidade, ele foi na mesma linha e disse ser vítima de "arbitrariedades estapafúrdias". "Não é que não vamos resistir. É que não vamos perder essa guerra. A alma da democracia está no voto. Seu João e dona Maria têm o direito de saber que seu voto foi contado", insistiu.

O ministro da Secretaria-geral, Luiz Eduardo Ramos, saiu em defesa do presidente e criticou Fachin que, em entrevista ao Estadão, disse que "a Justiça Eleitoral já pode estar sob ataque de hackers" e citou a Rússia como origem de parte da ofensiva. "Quando autoridades investidas de um poder desses começam a se expressar com esse tipo de pronunciamento, me dão o direito de levantar dúvidas com relação à isenção e à imparcialidade em futuros processos", declarou./ Lauriberto Pompeu e Vinícius Valfré