Título: Senador radical é recordista de nepotismo
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2005, País, p. A4

Geraldo Mesquita, do partido de Heloisa Helena, tem nove parentes contratados

BRASÍLIA - A presidente do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), senadora Heloísa Helena (AL), pode ter comprado gato por lebre na última quarta-feira, quando anunciou o ingresso do senador Geraldo Mesquita Júnior (AC) no partido recém-fundado. O senador - que deixou o PSB após divergências com a base de sustentação do governo - é o campeão do nepotismo no Senado, com pelo menos nove parentes na folha de pagamento do seu gabinete. - A maioria é parente distante e são grandes profissionais - justifica Geraldo Mesquita Júnior.

O genro do senador, Paulo César da Silva Vieira, ganhou uma vaga de assistente parlamentar, com lotação e exercício no gabinete. Um dos sobrinhos do senador, Cláudio Scafuto Filho, abocanhou outra vaga de assistente parlamentar.

- Paulo César é meu genro, é verdade. Cláudio, meu sobrinho. Esses dois cumprem papéis fundamentais no meu gabinete. O Paulo César faz o suporte gráfico e o Cláudio Scafuto trabalha na revisão de textos. Tenho uma linha de publicação muito grande, preciso dos dois - justifica Geraldo Mesquita Júnior.

Outra parente contratada pelo parlamentar é Ana Maria de Holanda Gurgel. O senador admite que é sua parente, mas confunde os galhos de uma árvore genealógica que toma conta do seu gabinete e tem tentáculos no escritório que mantém no Acre.

- A Ana Maria é uma parente distante, trabalha para mim no estado. É parente de quarto grau e atua no estado - justifica o senador.

Geraldo Mesquita Júnior buscou para seu gabinete até parentes que estavam trabalhando em outros órgãos federais. A cunhada do senador, Célia França Cavalcante, também ganhou um cargo de assistente parlamentar em seu gabinete em Brasília.

- A Célia é realmente minha cunhada. Só que ela é funcionária do governo do Distrito Federal, cedida ao meu gabinete - insiste em justificar o senador.

A irmão do cunhado do senador, Norma Sueli Ferreira de Araújo conquistou um cargo de assistente. Se cunhado não é parente para muita gente, imagina irmã de cunhado.

- A Norma é irmã do meu cunhado, isso não é parentesco. Ela é profissional e coordena meu escritório no Acre. É pessoa da minha confiança - explica Mesquita Júnior.

Outra assistente contratada pelo senador é Ana Paula Garcia de França. O senador garante que não tem parentesco direto com a moça, mas reconhece que ela é parente de sua mulher, Maria Helena Laundry de Mesquita.

- A Ana Paula não é minha parente. Tem parentesco apenas com a minha mulher - confirma, sem constrangimento, Geraldo Mesquita Júnior.

A nora do senador, Danielle Abud Pereira, também ganhou um cargo de assistente parlamentar, lotada no gabinete de Geraldo. O senador não nega que nora seja parente e credita a contratação à ''competência'' da moça.

- Danielle realmente é minha nora. É uma bióloga que me dá assessoria nessa área - confirma Geraldo Mesquita Júnior.

Tem mais gente na lista. O senador contratou Estela Maria Maciel para o cargo de assistente parlamentar em abril do ano passado. Ela atua como secretária do gabinete no Senado.

- Tenho parentesco distante com Estela. Ela é filha da minha madrinha de batismo - tenta explicar o senador.

Como se ainda fosse pouco, Geraldo Mesquita contratou Fernando Tomin Mollo para o cargo de assistente parlamentar no início de março. O senador se lembra bem do motivo da contratação do rapaz.

- O Fernando é filho do Ademaro, um cara que foi casado com minha mulher - recorda-se Geraldo Mesquita Júnior.

No Acre, o senador é carinhosamente chamado de Geraldinho. Ele é procurador da Fazenda Nacional e virou fenômeno de votação ao aliar-se às raposas políticas do estado, entre elas a atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o governador do Acre, Jorge Viana, e o irmão dele, o senador Tião Viana. A família de Jorge Viana é amiga da família de Geraldinho desde a época da ditadura militar, quando o pai de Geraldinho, Geraldo Mesquita, foi governador do Acre.

Depois da campanha, muitas pessoas dentro da Frente Popular do Acre passaram a chamar o senador de Judas Iscariotes, por ter traído o projeto de governo do Estado e do governo do PT. Ao filiar-se ao PSOL, Geraldinho afirmou que se sentia como um riacho desaguando num grande rio, o partido, que desaguaria num grande oceano, a libertação do povo brasileiro. Esse grande oceano, disse o senador, provocaria em breve ''um grande tsunami'' na elite brasileira, que tenta manter a população na exclusão e na miséria.