O Globo, n. 31510, 14/11/2019. País, p. 6

Investigado, Flávio pode presidir novo partido
Jussara Soares


O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) pode ganhar o comando do novo partido político que está sendo formado pelo pai, o presidente Jair Bolsonaro. Ele é a segunda opção para assumir a presidência do Aliança pelo Brasil, caso o presidente Bolsonaro, que é a expectativa da maioria dos apoiadores, decida não ocupar a liderança formal da sigla que está sendo gestada para aglutinar apoiadores do bolsonarismo.

Investigado no caso envolvendo a atuação de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, Flávio se tornou o nome da família viável para o cargo. Isso porque o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), considerado entre os filhos uma liderança política mais ativa entre os apoiadores, não pode se desfiliar da legenda sob o risco de perder o mandato do Legislativo.

O senador, conforme publicou a coluna de Berenice Seara, do Extra, já entregou seu pedido de desfiliação ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com aliados, o presidente ainda não assinou a sua saída. Por terem concorrido em uma eleição majoritária, ambos não correm o risco de perder o mandato, diferentemente de deputados. O PSL, porém, ainda não recebeu as cartas de desfiliação de Bolsonaro e do senador Flávio.

Interlocutores que acompanham a criação da nova legenda afirmam que o fato de Flávio ser investigado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, sob acusação da prática de “rachadinha”, quando assessores devolvem parte de seus salários, em seu então gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), não é visto como um impeditivo.

O presidente oficial do Aliança pelo Brasil tem de ser apresentado até a convenção da nova sigla no dia 21 deste mês, em Brasília. A executiva terá 15 pessoas. A estratégia que vem sendo discutida na criação do Aliança pelo Brasil é Bolsonaro assumir a presidência de seu novo partido e, imediatamente, se licenciar, passando o comando para Flávio. Bolsonaro, então, seguiria como uma espécie de presidente de honra.

Bate-boca com Witzel

A medida também seria um modo de fortalecer Flávio. Apontado como o mais habilidoso politicamente dos filhos e o mais moderado, ele submergiu após o caso Queiroz. A pessoas próximas, Flávio chegou a mencionar que encerraria o mandato de senador e deixaria a vida política. Ontem, no entanto, já demonstrou intenção de voltar ao ringue diário da política. Ao responder a uma publicação do governador do Rio, Wilson Witzel, sobre falta de ação do governo federal para o combate ao tráfico de armas e drogas, Flávio o chamou de “traidor” e “mentiroso contumaz”: “Não jogue nos ombros alheios a responsabilidade por sua incompetência. Tenha ao menos honestidade intelectual”, escreveu no Twitter.