O Globo, n. 31475, 10/10/2019. País, p. 08

Pressionado, Janot pede licença da OAB

Bela Megale


O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot apresentou ontem um pedido de licenciamento à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Distrito Federal. A solicitação ocorreu após as representações protocoladas contra Janot na entidade pelo governador Ibaneis Rocha (MDB-DF) e o senador Renan Calheiros (MDB-AL), motivadas por entrevistas concedidas por Janot nas quais afirmou ter planejado assassinar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

Com o gesto, o ex-procurador-geral busca fazer uma política de boa vizinhança na OAB e evitar que a entidade seja atingida pela repercussão dos fatos que o envolvem. No documento, ele diz que o seu licenciamento “tem o objetivo de evitar constrangimentos” ao órgão diante da repercussão do caso. O pedido de licença vai até 5 de novembro, quando o ex-PGR irá prestar esclarecimentos ao órgão. Até lá, ele pretende não advogar.

Ibaneis e Renan Calheiros solicitaram a suspensão e a cassação da carteira de advogado do ex-chefe do Ministério Público Federal.

Na semana passada, Janot pediu ao Supremo a devolução do seu celular e do computador, e o espelhamento dos dados desses aparelhos para atuar como advogado. Ele chegou a cancelar uma palestra na OEA, na Argentina, também na semana passada, alegando que não tinha material para realizá-la.

Arma aprendida

Celular, tablets, computadores e uma arma de Janot foram apreendidos pela Polícia Federal, no último dia 27, em operação na casa e no escritório dele, em Brasília, por determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes. O magistrado é relator do inquérito que investiga ataques à Corte e aos ministros. O porte de arma de Janot foi suspenso. Ele não pode entrar no prédio do STF nem se aproximar dos 11 ministros.

Em entrevistas recentes aos jornais “O Estado de S. Paulo” e “Folha de S.Paulo” e à revista “Veja”, Janot contou que entrou armado no STF com o objetivo de matar Gilmar Mendes e se suicidar em seguida. De acordo com sua própria narrativa, o ex-PGR chegou a menos de dois metros de Gilmar, na sala de lanches do tribunal, mas não conseguiu atirar.

Existem dúvidas se Janot, de fato, tentou executar o plano de assassinar Gilmar Mendes. Documentos do próprio MPF e da Força Aérea Brasileira (FAB) indicam que o ex-procurador teria viajado para Minas Gerais no dia 11 de maio de 2017, quando o episódio supostamente ocorreu.

O caso é narrado no livro “Nada menos que Tudo”, mas sem citar o nome do ministro. A publicação já teve noites de autógrafos pouco concorridas em São Paulo e Brasília. Na capital paulista, foram vendidos apenas 43 exemplares, enquanto na capital federal, 220.

Janot chefiou a Procuradoria-Geral da República por dois mandatos consecutivos, entre 2013 e 2017. Foi durante a gestão dele que a Operação Lava-Jato criou e celebrou os maiores acordos de colaboração premiada.