O Globo, n. 31476, 11/10/2019. País, p. 04
‘Vendem falso poder para vender serviços’
Entrevista: Luciano Bivar
O senhor pretende alterar o comando do partido e entregá-lo a Bolsonaro?
Não. O presidente nunca me falou sobre isso pessoalmente. O que há é um grupo capitaneado por duas ou três pessoas, um juiz desempregado, uma advogada rapina, que querem dinheiro. É tão ruim eu discutir sobre isso. É o que menos importa para mim e para o presidente. Essas pessoas, sorrateiramente, cujo objetivo é outro, estão nisso. Acho que o presidente não deve estar sendo bem aconselhado, porque estão vendendo ele como se fosse propriedade deles para forçar participação de domínio no partido e fazerem coisas que não são éticas.
Que “coisas não éticas”?
O fundo partidário é da bancada, e eu tenho que preservar isso. Eu não posso me dobrar a contratos e ofertas de serviços que não representem realmente nenhum processo. Os interesseiros do partido gozam de um relacionamento com o presidente e acham que, com isso, eles vendem esse falso poder para vender serviços ao partido. Não vão ter.
Quais são esses contratos?
Contratos para assessoria de imprensa, publicidade, advogados, compliance.
O senhor conversou com o presidente após o episódio?
Não. Eu tive muitas coisas ontem, reunião e jantar com (Sergio) Moro.
Nem por telefone?
Não, telefone não é um veículo bom. É bom conversar tête-à-tête. As coisas de política requerem você mastigá-las, você repensá-las, não é bom falar no primeiro sentimento. É bom a gente pensar se isso realmente será bom para o país. Será bom para o partido?
Avalia que Bolsonaro mudou de posição?
Tem uma coisa que é inabalável que são os conceitos e as divergências do partido. O partido é uma comunhão de ideias, é impessoal. E estamos muitos felizes com o assédio que estamos tendo. O Brasil inteiro nos procurando. Temos uma adesão nacional no partido.
O senhor acha que foi só um ato sem pensar?
Não posso comentar sobre o subjetivo do presidente.
O senhor avalia retaliar deputados tirando-os das comissões na Câmara?
São comissões que exigem conhecimento técnico. Se os caras estão lá apenas por protagonismo, não nos interessa. Queremos que as pautas andem. A gente não quer que os deputados vão lá para pedir vista a projeto de lei, pedir obstrução. A gente quer que o país ande.
Então o senhor vai trocar os deputados menos alinhados por outros mais afinados?
Sim. Mais afinados e que sejam tecnicamente eficientes. Veja a eficiência de Felipe (Francischini) e o delegado Marcelo Freitas na CCJ. Aprovando matérias lá muito rápidas. Não analisei casos específicos. Mas, a depender do conselho técnico do partido, se achar que as coisas não estão andando, vamos alterar os representantes.
O senhor cogita deixar o comando da legenda?
Eu tenho mandato até 29 de novembro, e o partido tem sua estrutura, suas datas. Você não pode transformar o partido político em uma república de bananas, ao menor traumatismo, mudar a direção do partido. Isso dá insegurança política e jurídica.
O senhor acredita que Bolsonaro vai sair do PSL?
Bolsonaro, como todo majoritário, não tem nenhuma amarra. É uma decisão independente dele.