Correio Braziliense, n. 21385, 04/10/2021. Política, p. 2

Obstáculos para a candidatura de Moro

Luana Patriolino


De volta ao Brasil, o ex-ministro Sergio Moro está em negociação para decidir seu futuro político. Nesta última semana, o ex-juiz fez um giro pelo país e animou apoiadores que apostam em sua força como uma terceira via nas eleições de 2022. No entanto, Moro ainda faz silêncio sobre a candidatura. O ex-juiz tem uma série de desafios pela frente caso queira se tornar candidato à presidência da República.

O Podemos, uma das legendas que está disposta a apostar em Moro, defende que decisão do ex-juiz sobre ser ou não candidato ao Planalto não pode passar de novembro. Isso porque o partido está com as pesquisas em mãos — indicando a baixíssima intenção de votos em Sergio Moro. Uma pesquisa Ipespe divulgada na última quinta-feira aponta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera em dois possíveis cenários de primeiro turno para a eleição presidencial do ano que vem, com 43% e 42% das intenções de voto. Citado no estudo, Moro aparece com apenas com 7%.

Na avaliação do cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, pesquisador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas, Moro tenta surfar na onda 'lavajatista', mas deve passar por dificuldades por conta da exposição como ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro. "A terceira via é uma candidatura que tem se colocado como uma alternativa ao Lula e ao Bolsonaro. Mas o Moro foi ministro do Bolsonaro. E, por várias vezes, agiu como fiador moral do próprio governo. Se ele não tivesse passado pelo governo Bolsonaro, talvez tivesse mais facilidade", destaca.

Outra dificuldade é a resistência a Moro dentro da classe política. "Não podemos esquecer que ele tem uma rejeição razoável dentro da própria estrutura política. Ele criou arestas com o PSDB, com o DEM. Hoje, Moro só seria unanimidade no próprio Podemos", avalia Carvalho.

A conduta do ex-juiz durante a Lava-Jato é outro ponto vulnerável. Em março, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o ex-juiz não teve imparcialidade no julgamento do ex-presidente Lula no caso do tríplex do Guarujá. "Acredito que ele deve continuar tentando surfar na onda do combate à corrupção, ainda que a operação tenha caído em descrédito para uma parcela da população. Creio que ele deverá se articular para apoiar algum candidato à presidência, sendo que a filiação ao Podemos e uma eventual candidatura ao Senado me parece o cenário mais provável e, até mesmo, mais favorável politicamente para Moro", afirma Ricardo Caichiolo, cientista político do Ibmec Brasília.

O tempo como ministro de Bolsonaro também pesa na rejeição de Moro como candidato. "Por mais que ele tenha saído, ele foi do governo. Qualquer tipo de candidatura de que ele participe, seja para presidente ou qualquer outra, sempre vai haver essa questão de ser atacado porque ele compôs o governo Bolsonaro; além disso, ele também vai ser sempre atacado por aqueles que apoiam o governo e o enxergam como um traidor", destaca.

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