O Globo, n. 31539, 13/12/2019. País, p. 9

Vale: causa de rompimento em Brumadinho foi ‘liquefação’



Um estudo técnico contratado por um escritório de advocacia que atende à Vale confirmou que a causa do rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho, em Minas Gerais, foi a “liquefação”. O fenômeno ocorre quando um material sólido passa a se comportar como fluido. O laudo foi divulgado ontem. Também foram apontados erros de engenharia.

A barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, se rompeu em 25 de janeiro deste ano atingindo 270 pessoas. Peritos já identificaram 257 mortos. Outras 13 pessoas ainda estão desaparecidas. Esta é a primeira vez que a causa do rompimento é divulgada. A Polícia Civil de Minas informou, em 28 de novembro, que havia concluído o laudo sobre o desastre, mas não revelou o resultado da perícia.

O fenômeno de liquefação é explicado no relatório como “perda de resistência significativa e repentina”. O estudo aponta que os rejeitos e outros materiais que estavam na barragem apresentavam “comportamento frágil”. Isso significa que o fluxo de água presente nesse material exerceu uma força que anulou o peso e a aderência de suas partículas, fazendo com que elas ficassem soltas.

Seis dias após a tragédia, o subsecretário de Regularização Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente mineira, Hildebrando Neto, disse que tudo indicava que o rompimento da estrutura poderia ter sido causado por liquefação, que foi o mesmo fenômeno causador do colapso da barragem da Samarco em Mariana, em 2015, também em Minas.

Investigação alemã

O estudo usou imagens de satélite para medir os volumes de antes e depois do rompimento da barragem e determinar quanto de rejeito havia sido despejado. O total identificado foi de cerca de 75% de todo o material que havia na estrutura.

Procuradores alemães investigam se funcionários da empresa de inspeções e certificação Tüv Süd agiram ilegalmente ao permitir à empresa que assegurasse a estabilidade da barragem do Córrego do Feijão.

A investigação começou após queixa criminal contra dois empregados da Tüv Süd apresentada por um advogado alemão associado a parentes das vítimas do desastre. A queixa criminal também tem apoio do Centro Europeu de Direitos Humanos e Constitucionais e de uma organização local ligada à Igreja Católica. As alegações no caso são complexas. Segundo a lei alemã, algumas das principais acusações só se aplicariam a pessoas em cargos de gerência.