Título: PMDB confronta PMDB
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/04/2005, País, p. A3
Pedro Simon e Michel Temer se recusam a defender ministro da Previdência e dizem que foi escolha pessoal de Calheiros
Agência Senado Senador Pedro Simon assegura que a bancada do partido não foi consultada antes da indicação do ministro da Previdência
BRASÍLIA - O senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou ontem que o ministro da Previdência Social, senador Romero Jucá (PMDB-RR), não foi indicado pela bancada do partido no Senado. O presidente da legenda, deputado federal Michel Temer (SP), confirmou a versão de Simon e a utilizou para explicar por que o PMDB não defenderá Jucá das denúncias de irregularidades nas empresas das quais foi sócio.
- A indicação foi do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a bancada não foi consultada - assegurou Simon.
De Roma, onde foi acompanhar o enterro do papa João Paulo II, Renan Calheiros afirmou, por meio de sua assessoria, que a escolha foi, sim, da bancada do partido. O presidente do Senado mantém seu apoio à indicação de Jucá e afirma que considera satisfatórias as explicações do ministro.
Simon, além de responsabilizar diretamente Calheiros pela indicação, atribuiu ao governo parte da responsabilidade sobre o caso.
- O governo também é responsável, porque mesmo sabendo das denúncias contra ele (Jucá), pois a imprensa as vinha publicando desde dias antes da nomeação, fez a indicação.
Jucá é acusado de ser fiador de um empréstimo do Banco da Amazônia (Basa) à Frangonorte em que foram dadas como garantia sete fazendas inexistentes. Na época, 1996, o ministro era um dos sócios da empresa.
Ontem, a direção nacional do PMDB afirmou que não fará esforço para defender Jucá das acusações que vem sofrendo. Nem mesmo haverá solidariedade com o correligionário.
- O ministro Romero Jucá não foi uma indicação institucional do PMDB, então o PMDB não tem que defendê-lo - justificou Temer.
Representante da ala ''oposicionista'' do partido, o deputado federal defende candidatura própria à Presidência no ano que vem e a entrega dos cargos no primeiro escalão. Por isso, se opôs à entrada de Jucá no ministério, mês passado. Temer se diz impedido até mesmo de expressar retoricamente aliança com o colega em perigo.
- Não acho que seja conveniente eu dizer nada a esse respeito - afirma.
O senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que virou uma espécie de porta-voz da defesa política de Jucá durante a semana, não quis dar novas declarações ontem.
- A defesa, eu já fiz. Não quero fazer julgamento de colega. O ministro não precisa do partido, ele sabe e pode se defender - disse Suassuna.
O PMDB, especialmente a ala que se declara independente do Planalto, está sendo cooptado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sonha ter a legenda apoiando formalmente sua candidatura à reeleição, ano que vem.
Ontem, Jucá contratou novo advogado e adiou a apresentação das explicações que daria no procedimento administrativo aberto pelo Ministério Público Federal sobre o empréstimo supostamente irregular concedido à Frangonorte.
O ministro disse, ao longo da semana, não ser responsável por atos da empresa desde que a deixou, entre 1996 e 1997, e questionou a validade do documento no qual assumiria o papel de fiador e principal pagador dos contratos. Ele move uma ação para anular o documento que registrou em cartório em 20 de dezembro de 1995.
Inicialmente prevista para ser entregue ontem (o próprio Jucá havia levantado essa hipótese, na terça-feira), a explicação ao Ministério Público pode ser dada até dia 18.
Ontem, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro assumiu a defesa do ministro. Ele é sócio do restaurante Piantella, freqüentado por políticos em Brasília. Advogou para o banqueiro Alberto Cacciola, para a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) e, mais recentemente, para o acusado de contrabando Law Kin Chong.
Outro advogado do ministro da Previdência, Márcio Rodrigues disse que estão chegando documentos de Roraima para ajudar a compor a defesa de Romero Jucá.