Título: Despedida pára o mundo
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/04/2005, Internacional, p. A8

O mundo se tornou mais próximo ontem para o funeral do papa João Paulo II. Reunidos pelos meios de comunicação modernos, centenas de milhares de fiéis de todas as religiões pela Ásia, África, Europa e Américas rezaram e homenagearam o pontífice que conclamou a união das crenças.

Em Israel, onde mais de 80% da população é judia, emissoras de rádio e televisão transmitiram ao vivo o funeral no Vaticano. Assim como a TV estatal do Egito, 90% muçulmano sunita. Alguns iranianos ignoraram a proibição de assistir à televisão ocidental para ver a cerimônia.

- Esse é um evento histórico. Quero fazer parte do mundo e assistir a ele - justificou Arezu, um xiita de 38 anos.

''Pope Star'', estampou na primeira página o jornal francês Liberation, lembrando a celebridade de João Paulo II. A cobertura incluiu o envio de torpedos por celular, que deixavam as pessoas informadas sobre o andamento da liturgia, transmitida ao vivo por telões em várias partes e acessada por internautas do mundo inteiro.

Os telões preenchiam a Trafalgar Square, em Londres, o Times Square, em Nova York, a frente da catedral de Notre Dame, em Paris, a catedral de Maria, em Sydney, a prefeitura de Brazzaville, no Congo, e até a catedral de São José, em Hanói, a capital do comunista Vietnã.

No México, segundo país em população da América Latina, milhares de pessoas fizeram uma procissão e jogaram flores ao papamóvel, o veículo usado por João Paulo II. No carro, uma cadeira vazia, uma veste papal branca e uma foto do pontífice.

- Esta viagem com o papamóvel pode até parecer ridículo, mas o amor do povo mexicano pelo papa é tamanho que as demonstrações simplesmente não param - disse o aposentado Virgilio Ramirez, que também carregava uma foto de Wojtyla.

No Brasil, várias homenagens foram registradas. Na Basílica de Aparecida, em Aparecida do Norte, a cerimônia atraiu milhares de fiéis. Em uma ilha na costa Oeste de Gales, um grupo de 15 frades católicos cistercienses, que seguem uma restrita rotina de trabalho e prece e observam voto de silêncio à noite, conseguiram uma TV por satélite. Na também católica Irlanda, o motorista de ônibus Eugene McGuinness deixou a rotina de trabalho para rezar na igreja de St. Andrew, que tinha um telão transmitindo o funeral.

- É grandioso unir pessoas de todas as religiões. Acho que ninguém tinha conseguido isso antes - disse.

Na Croácia, onde a população segue firmemente as doutrinas católicas, as aulas e a atividade comercial foram suspensas. As ruas ficaram vazias e bandeiras brancas tremulavam a meio mastro.

A África também se mobilizou para se despedir do papa peregrino. Em Madagascar, milhares de pessoas foram para as cidades para assistirem televisão, que funciona com geradores de eletricidade. Na capital, Antananarivo, 40 mil pessoas participaram da missa rezada no estádio nacional de futebol.

O ecumenismo chegou às redes de televisão árabes. A Al Jazira, a Al Arabiya e a Abu Dhabi igualmente transmitiram ao vivo segmentos das exéquias, com comentários de padres católicos e um correspondente no Vaticano.

O rabino Sharon Sobel, chefe do Conselho Canadense para a Reforma Judaica, assistiu ao funeral em um café de Jerusalém e afirmou que João Paulo II ajudou a curar antigas feridas entre judeus e cristãos.

Mas na Rússia e na China, países ainda indiferentes ao Vaticano, a audiência foi mais comedida. As redes de televisão de Moscou só exibiram um resumo da cerimônia funerária, ainda assim nos programas de notícia.