Título: Epiléticos sofrem mais com os preconceitos
Autor: Soraia Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 09/04/2005, Brasília, p. D8

Doença, que atinge mais de 5 milhões na América Latina, é discutida por pacientes, pais e médicos no Hospital Universitário de Brasília

O Hospital Universitário de Brasília (HUB) promoveu, ontem, o segundo Encontro de Pais, Professores e Pacientes portadores de epilepsia. A doença, que afeta o cérebro e cujo sintoma mais comum é a convulsão, já atinge mais de 5 milhões de pessoas, de todas as idades, apenas na América Latina, segundo dados da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE). A doença pode se manifestar em qualquer idade, mas a incidência em adultos é maior que nas crianças. No Brasil, os casos infantis atingem de 6% a 8% da população. Entre os adultos, de 10% a 12% dos brasileiros tem epilepsia. O preconceito e a desinformação são problemas mais enfrentados por médicos e pacientes.

O desconhecimento cria medo de rejeição e, até mesmo, atitudes erradas com relação ao paciente durante as crises. Para os adolescentes e adultos, a dificuldade em aceitar a doença é maior. No caso das crianças, não há uma preocupação tão grande com o que as outras pessoas vão pensar. Além disso, com a medicação e o acompanhamento médico, é possível ter uma vida normal.

Já no caso dos adultos, o ritmo de vida e a estrutura do corpo são diferentes. Existe a preocupação com o emprego, o desejo de casar e ter filhos, o temor de não conseguir ter um relacionamento amoroso normal e o medo de que os filhos herdem a doença. Além disso, há a vontade de consumir bebidas alcoólicas, que é a única restrição imposta pelos médicos, pois o álcool pode provocar as crises e prejudicar o efeito dos medicamentos.

Embora o sintoma mais conhecido da doença sejam as convulsões, também chamadas de ataques epilépticos, existem várias outras formas de manifestação.

- Qualquer coisa pode ser um sintoma da epilepsia. Desde dor abdominal e vômito até as convulsões - garante a neurologista Marinice Cabral Moraes, responsável pelo tratamento da epilepsia em adultos no Hospital Universitário de Brasília (HUB),

Durante o ataque epiléptico, a pessoa pode cair no chão, apresentar contrações musculares em todo o corpo, morder a língua que, por ser um músculo também se contrai, ter salivação intensa, ficar com a respiração ofegante e, às vezes, até urinar. Não há como parar a crise, ela costuma durar poucos minutos e, nesse período, quem estiver acompanhando deve apenas tentar deixar o paciente em uma posição mais confortável e segura.

Afrouxar as roupas, gravatas e cintos facilita a respiração. Também é importante colocar um objeto macio sob a cabeça do paciente e deixá-la de lado para facilitar a saída da saliva, evitando o sufocamento. Tentar acordar o epiléptico ou colocar objetos em sua boca para evitar a mordedura da língua é errado e pode machucá-lo. O importante é manter a calma e observar todos os movimentos do doente para poder relatá-los ao médico depois.

Assim como a convulsão, as ausências ou desligamentos caracterizam outro tipo de crise. Nestes casos, a pessoa fica com o olhar fixo e perde o contato com o meio por alguns segundos. Por ser de curta duração, esse tipo de crise é de difícil identificação.

Há ainda um tipo de crise na qual a pessoa parece estar alerta, mas perde o controle de suas ações, fazendo movimentos automaticamente. A pessoa pode andar sem direção definida, mastigar e falar de modo incompreensível.

- Já aconteceram casos em que o paciente acreditava ser sonâmbulo e na verdade tinha epilepsia - afirma Marinice, que alerta:

- Caso a pessoa fique andando, é importante não tentar pará-la.

A médica explica que a força do epiléptico durante a crise é muito grande. Caso alguém obstrua seu caminho durante a crise, as consequências são imprevisíveis e tanto o paciente quanto quem o acompanha podem se machucar.

Por esse motivo, é importante que quem estiver com o paciente na hora da crise apenas o siga para evitar que ele se machuque. Como ao retornar das crises os pacientes não se recordam do que aconteceu, há dificuldade no diagnóstico.

- Outras pessoas vão contar ao paciente o que aconteceu ou ele começará a perceber que está tendo lapsos de consciência e procurar um médico - explica Marinice.