Título: Tarifa pública pressiona inflação
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 09/04/2005, Economia & Negópcios, p. A17

Reajustes de ônibus e água puxam alta de 0,61% no IPCA em março. Resultado reforça aposta em nova alta dos juros em abril

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,61% em março, acima do 0,59% verificado em fevereiro, aponta o Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE). Os preços administrados, aqueles elevados somente com determinação do governo, foram os principais violões da aceleração dos preços, com alta de 1,29%, contra 0,38% em fevereiro. A alta no mês teve como principais causas o reajuste médio de 5,2% das tarifas de ônibus em São Paulo e Porto Alegre, com impacto de 0,25 ponto. Também pesou o avanço das contas de água e esgoto, que subiram 4,42% com o reajuste em seis regiões.

Por não dependerem de oferta e de demanda, os preços administrados são imunes à política de alta dos juros, que vem sendo aplicada pelo Banco Central desde setembro. Alegando necessidade de controlar o processo inflacionário, o BC elevou a taxa Selic, entre setembro e março, de 16% para 19,25% ao ano. O IPCA é o índice de referência para a meta de inflação perseguida pelo Banco Central. O objetivo este ano é fechar o índice em 5,1%, com uma margem de tolerância entre 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Com o resultado de março, o acumulado do primeiro trimestre é de 1,79% no ano, mais de um terço do alvo.

O acumulado do IPCA ainda está abaixo do verificado em igual período do ano passado, quando fechou em 1,85%. Mas a inflação fechou 2004 em 7,6%, abaixo do teto de inflação de 2004, que era de 8%, porém acima do teto de 2005.

Embora o resultado tenha vindo em linha com o que o mercado financeiro previa, para alguns analistas o número significa ''estado de alerta''. De acordo com esses profissionais, o IPCA em patamar ainda elevado reforça as apostas de mais um aumento nos juros, desta vez de 0,25 ponto percentual em abril. Com o resultado, o indicador que baliza as metas de inflação acumula 7,54% nos últimos doze meses.

A consultoria GRC Visão alerta que, em termos anualizados, o índice subiu de 7,4% em fevereiro para 7,7% em março, portanto, ainda permanece acima do limite superior da meta de inflação estipulada para este ano. Alexandre Sant'Anna, da ARX Capital, concorda

- Esse número de março, sem dúvida, não é confortável, mas pelo menos mostrou que os preços livres (aqueles sobre os quais a política monetária tem influência) caíram - afirmou. Os livres cederam de 0,77% em fevereiro para 0,33% em março.

Apesar de ter seguido o movimento de alta dos demais indicadores de inflação da economia, a aceleração do IPCA não registrou pressão dos alimentos por conta de quebra na safra causada pela estiagem, ao contrário dos IGPs (Índice Geral de Preços) calculados pela Fundação Getúlio Vargas. Também divulgada ontem, a prévia do IGP-M veio acima das estimativas do mercado. O índice, em que 60% correspondem às variações no atacado, registrou variação de 0,67% na primeira prévia de abril, contra a previsão de 0,45%,

Dois dias antes, o IGP-DI de março chegou a 0,99%, ante 0,40% em fevereiro. Nos dois casos, o principal fator foi a alta da soja e do milho no atacado que se expandiu pelos demais segmentos.

Segundo a gerente da Coordenação de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, os efeitos da estiagem ainda não chegaram ao varejo, único segmento avaliado na estrutura do IPCA. Segundo ela, os alimentos diminuíram a alta de 0,49% para 0,26%, com destaque para hortaliças (-4,23%), farinha de mandioca (-2,34%), feijão carioca (-2,09%), frango (-1,61%), pão francês (-1,55%), feijão preto (-1,05%) e carnes (-0,50%).

Entre as regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, a taxa mais alta foi verificada em Belo Horizonte e São Paulo (0,87% nas duas cidades). A mais baixa foi apurada em Salvador (-0,15%). O IPCA calcula a variação de preços em uma cesta de consumo de famílias com rendimento entre um e 40 salários mínimos, abrangendo Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Brasília e Goiânia.

Com Folhapress