Título: Memória na berlinda
Autor: Cleusa Maria
Fonte: Jornal do Brasil, 09/04/2005, Caderno B, p. 1

De acordo com Célia Zaher, em contrapartida à saída dos originais dos períodicos microfilmados - que já totalizam 8.505 títulos e 29 milhões de páginas - está sendo construído no subsolo do edifício-sede o maior laboratório de microfilmagem da América Latina, com o apoio da Fundação Vitae, que daqui a quatro meses terá capacidade para produzir 360 mil páginas microfilmadas por ano. As matrizes e os arquivos digitalizados serão protegidos em um cofre antifogo com espaço para receber a produção dos próximos dez anos.

- Nossa obrigação é dar aos usuários acesso às informações das obras aqui depositadas. A única maneira de preservar um periódico é através da microfilmagem, porque ele vai morrer de morte natural qualquer dia desses. O suporte não é mais físico. Os exemplares são higienizados para a microfilmagem, depois acondicionados em caixas especiais e transferidos para o depósito, onde não haverá consultas do público e não serão manuseados - diz a diretora.

Esse é outro ponto de discórdia. Técnicos da casa, como os bibliotecários Ângela Salles e Rutônio Santana, afirmam que o cofre-forte é que deveria ir para o Anexo.

- Os originais precisam estar perto de nós para a gente cuidar deles. Aqui, quando dá goteira, corremos e cobrimos com plástico - diz Ângela.

Os técnicos alegam ainda que a Fundação Vitae não concordou em investir no Anexo, por não ter aprovado as condições de segurança. Não é o que diz a diretora Célia Zaher.

- Verbas são negociadas e o fato de o atendimento do público permanecer na sede, que é um prédio muito mais bem localizado e bonito, contou nessa negociação - diz ela, acrescentando:

- Os descontentes são um pequeno grupo. Botaram a boca no mundo sem querer dialogar.

O ''boca no mundo'' levou a denúncia a uma investigação do Conselho Regional de Biblioteconomia. A presidente Marisa Russo conta que ouviu os dois lados, mas só poderá dar um parecer técnico depois de uma visita ao Anexo, que será agendada ainda este mês:

- Ouvimos os dois lados. Os técnicos dizem que o Anexo não tem condições de receber o acervo. A diretoria afirma que ele está mal acondicionado onde se encontra hoje. Mas colocar o acervo em condições inadequadas é o mesmo que descartá-lo. É preciso ventilação, higienização periódica. Não pode ter umidade. O papel só perece se não for tratado adequadamente. A gente não pode perder este acervo. É a memória do país.