O Globo, n. 31478, 13/10/2019. País, p. 8
Em missa, Bolsonaro ouve críticas a ideologias
Henrique Gomes Batista
Diante do presidente Jair Bolsonaro, o arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, fez ontem à tarde uma homilia mais conciliadora que a adotada na missa da manhã. Se na celebração mais importante do dia, transmitida ao vivo pela TV, ele criticou a “direita”, na cerimônia das 16h do dia da padroeira, o arcebispo ampliou a avaliação também para a esquerda. Ao entrar na Basílica, Bolsonaro ouviu aplausos e vaias de parte dos fiéis que estavam presentes para acompanhar a missa. — Os dragões são as ideologias, que quer dizer os interesses pessoais, tanto de direita quanto de esquerda —disse o arcebispo.
Em um outro momento, dom Orlando disse que reza para que “não falte emprego, não falte educação, não falte alegria e não falte paz” para o povo brasileiro. Dom Orlando ainda afirmou, em sua explanação de dez minutos, que Nossa Senhora é negra, indicando que isso é uma mensagem de Deus. —Fora com o racismo, fora com a desigualdade social —disse.
No fim de sua homilia, o religioso lembrou que, como está na Carta a Timóteo, todos devem rezar para as autoridades. Disse que sempre é preciso rezar para o papa, para o bispo e para os governantes. — Senhor presidente, sinta-se abraçado por nossa mãe querida — disse ele, em referência à Nossa Senhora, seguido de palmas do público que lotava a Basílica.
Jair Bolsonaro fez a primeira leitura da missa. Em muitos momentos, contudo, ele não acompanhou os pedidos de palmas, como quando a celebração citava o sínodo da Amazônia.
Dom Orlando, no final da celebração, pediu que o público rezasse pela Amazônia. Ele citou o Sínodo Para a Amazônia, que ocorre no Vaticano e é criticado por forças políticas conservadoras no Brasil. Bolsonaro é o primeiro presidente que visita a Basílica no 12 de outubro, dia da padroeira do Brasil. E, levando em conta visitas de presidentes em exercício ao santuário, ele é o primeiro que foi ao local desde Fernando Henrique Cardoso, que esteve em Aparecida em maio de 1998, segundo a assessoria de imprensa da Basílica. A Basílica estimava ontem que 170 mil pessoas deveriam passar pelo santuário. Muitos deles chegaram até lá caminhando, os chamados romeiros. Havia um esquema especial de segurança já reforçado para o Dia de Nossa Senhora Aparecida.