O Globo, n. 31508, 12/11/2019. Economia, p. 29

Crise na Bolívia pode atrasar renegociação de acordo sobre gasoduto
Ramona Odoñez


A crise na Bolívia vai provocar um atraso nos planos do Brasil de aumentara competição no setor de gás natural e promover o que o ministro da Economia, Paulo Guedes, chama de“choque de energia barata”. Isso porque enquanto um novo governo não se consolida em substituição ao de Evo Morales, que renunciou no domingo, a Petrobras não terá condições de continuara renegociação de contratos de importação de gás natural do país vizinho por meio do gasoduto Brasil Bolívia (Gasbol) com a estatal boliviana YPFB.

Um acordo de importação de até 30 milhões de metros cúbicos por dia de gás da Bolívia, assinados em 1999, vence em 31 de dezembro. Segundo fontes, a negociação já vinha enfrentando dificuldades nos últimos meses em função das eleições na Bolívia.

Solução só em 2020

Como o contrato é fundamental para a economia boliviana, a Petrobras aguardava a definição do resultado eleitoral para fechar um acordo, cumprindo parte dos compromissos que assumiu para abrir espaço para outras empresas no setor de gás.

— Agora as negociações vão atrasar. Só um novo governo poderá negociar o novo contrato — ressaltou uma fonte.

Para outro executivo próximo ao governo brasileiro, um novo acordo de importação de gás da Bolívia só deverá ser fechado em meados do próximo ano, coma definição de um sucessor para Morales:

— É uma pena porque a renegociação da importação de gás da Bolívia seria o primeiro teste da Petrobras referente ao acordo que fez com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de reduzir sua participação no mercado de gás, o que permitiria a entrada de outros atores privados no setor e a redução do preço.

De acordo com fontes de mercado, a Petrobras negocia coma YPFB reduzir o volume comprado de 30 milhões para algo em torno de 20 milhões de metros cúbicos por dia de gás. Isso porque a projeção de aumento da produção de gás nos campos do pré-sal reduza dependência brasileira do gás boliviano. A redução abriria espaço para que empresas privadas negociem diretamente coma estatal boliviana a compra de cerca de dez milhões de metros cúbicos por dia, ocupando o espaço ocioso que a Petrobras deixaria no Gasbol. Assim, poderiam obter preços mais baixos que o pago hoje pela estatal, cerca de US $7 por milhão de BTUs (unidade internacional de gás natural). A definição é importante para que o setor privado saiba qual será a capacidade que a Petrobras abrirá a outras empresas.

Fontes do setor avaliam que a Petrobras e a YPFB buscarão um acordo preliminar provisório para manter as condições atuais e evitar interrupção no fornecimento de gás durante a transição boliviana. O volume de gás importado da Bolívia já tem variado, ficando muitas vezes em 24 milhões de metros cúbicos por dia. Procurada, a Petrobras não comentou o assunto.