O Globo, n. 31479, 14/10/2019. País, p. 4

Sem Capilaridade

Silvia Amorim


Desde que o presidente Jair Bolsonaro foi eleito, há um ano, 43 cidades elegeram os sucessores de prefeitos cassados pela Justiça. O resultado das votações mostra como o PSL ainda tem a busca por capilaridade como grande desafio antes das disputas municipais de 2020. Foram apenas sete as cidades onde o partido do presidente lançou candidatura desde outubro de 2018, tendo eleito prefeitos apenas em Pimenta Bueno (RO), em dezembro de 2018, e em Mirandópolis (SP), no mês passado.

A preparação do PSL para as disputas pelas prefeituras, a definição dos candidatos e principalmente a distribuição dos recursos partidários para as campanhas estão no centro da briga do grupo ligado a Bolsonaro com o comando formal da legenda, presidida pelo deputado Luciano Bivar.

Segunda sigla com maior representação no Congresso Nacional, o PSL garantiu uma fatia de R$ 103 milhões do fundo partidário para distribuir entre a direção nacional e os diretórios regionais neste ano. Além disso, no ano que vem deverá receber cerca de R$ 200 milhões do fundo eleitoral. Para Bolsonaro, o desempenho eleitoral em 2020 é crucial para ampliar a presença de aliados em municípios por todo o país, de olho em uma base que impulsione sua candidatura à reeleição em 2022. O racha com Bivar, acusado por Bolsonaro de falta de transparência na gestão dos recursos do partido, trouxe à tona as tensões internas do PSL na construção dessas candidaturas nos municípios.

As eleições suplementares são as realizadas fora de época em virtude da cassação de prefeitos. Dos 43 pleitos que ocorreram desde que Bolsonaro se elegeu, segundo dados do TSE, o PSL lançou três candidaturas no estado de São Paulo e também teve postulantes a prefeito em Minas, Rio, Espírito Santo e Rondônia.

Éverton Sodário, apelidado de “Bolsonaro caipira”, foi o segundo prefeito eleito pelo PSL no Brasil após a eleição presidencial. Ele deverá assumira prefeitura de Mirandópolis ainda este mês. Antes dele, Delegado Araújo havia sido eleito em Rondônia na esteira da vitória de Bolsonaro, no segundo turno, e do governador do PSL Marcos Rocha.

Reflexo da crise no PSL

Sodário usou a família Bolsonaro na campanha, mas disse que as questões nacionais e ideológicas tiveram importância menor na disputa municipal. Ele acredita que isso se repetirá nas eleições de 2020.

— Os temas locais predominaram, e o viés ideológico ficou em segundo plano aqui. O morador quer saber do asfalto da sua rua e menos da reforma da Previdência

— disse o prefeito eleito.

Em Paulínia, também no estado de São Paulo, a presença do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e um investimento de cerca de R$ 250 mil do fundo partidário não foram suficientes para eleger Capitão Cambuí, o candidato do clã Bolsonaro.

O policial militar terminou em quinto lugar na disputa vencida por Du Cazellato (PSDB) em setembro. Com cerca de cem milha bitantes, Paulínia é a maior das 43 cidades que elegeram um novo prefeito. Situada na região de Campinas e conhecida por ser um polo petroquímico doestado, acidade deu a Bolsonaro vitória nos dois turnos da eleição presidencial.

Cambuí minimizou a possibilidade de uma transferência de voto de Bolsonaro nas eleições municipais e citou a “falta de maturidade” do partido nas urnas como um dos fatores que contribuíram para a derrota.

— O PSL é um partido que era pequeno e ainda precisa de muita estrutura. Falta maturidade. Tivemos muitas dificuldades. As características locais são mais fortes em disputa de prefeitura —disse o policial.

Cambuí sentiu os efeitos da briga entre a família Bolsonaro e a direção do PSL. O candidato terminou a campanha devendo R$ 200 mil a fornecedores porque o diretório nacional, controlado por Bivar, não liberou os cerca de R$ 450 mil que o PSL estadual, presidido por Eduardo Bolsonaro, havia prometido para sua campanha.

Pouco antes da eleição, o partido destituiu Lucia Abadia do comando do diretório municipal para indicar um nome mais próximo de Eduardo Bolsonaro.

— Acharam que era só colocar Eduardo Bolsonaro na campanha e ele (Cambuí) estaria eleito. Não foi assim. Foi um fiasco —disse Lucia.

O PSL nas eleições suplementares

> Pimenta Bueno (RO). Delegado Araújo obteve a primeira vitória do PSL.

> Mirandópolis (SP). Éverton Sodário, o ‘Bolsonaro caipira’, foi eleito em setembro.

> Paulínia (SP). O bolsonarista Capitão Cambuí amargou a quinta colocação.

> Cajamar (SP) Vaguinho (PSL) ficou em quinto. > Iguaba Grande (RJ). Apoiado pelo clã Bolsonaro, Washington Tahim ficou em segundo, atrás do eleito Vantoil (PPS).

> Nova Porteirinha (MG). A candidata do PSL Regina Freitas perdeu para Joélia Barbosa (MDB) por 18 votos.

> Irupi (ES). Raphael Fonseca (PSL) foi superado por Edmilson Meireles (MDB).