Título: Senhoras do destino
Autor: Carlos Zarur
Fonte: Jornal do Brasil, 12/04/2005, Outras Opiniões, p. A11

Duas mulheres, uma delas negra, poderão duelar para chegar ao mais importante emprego do mundo. Apesar de negarem qualquer pretensão, Hillary Clinton e Condoleezza Rice são candidatas naturais ao cargo de presidente dos Estados Unidos da América.

Representam, com limpidez, o ideário de seus partidos. Hillary, defensora das mais francas e liberais propostas políticas de uma sofisticada ala dos democratas, pode significar o renascimento do partido depois do grande fiasco das últimas eleições, quando o recalcitrante senador John Forbes Kerry levou os democratas a uma derrota histórica.

Já Condoleezza Rice é uma típica representante do grupo mais agressivo e aguerrido do partido republicano. Um verdadeiro ''falcão'' que reforça a tese de que os Estados Unidos têm o poder ''divino'' de intervir onde quiser, na defesa de seus interesses.

Com este cenário, desfocado pelo tempo que ainda falta para as eleições, o mundo assistiria, deliciado, a um duelo único, entre duas mulheres inteligentes e fortes que atuam em extremos completamente opostos.

Hillary, senadora eleita pelo importante estado de Nova York, casada com um ex-presidente, faz política refinada. Soube em momentos difíceis do governo de seu marido, como no episódio Mônica Lewinsk, administrar as coisas com segurança, preservando a família sem, no entanto, permitir a exploração baixa dos fatos. Ela não quer conversa sobre sua possível candidatura - diz que ainda é muito cedo. Condoleezza também não quer ouvir falar no assunto. Em sua única manifestação, declarou ao jornal The Washington Times: ''Tenho um enorme respeito pelos que se apresentam como candidatos à presidência, mas acho realmente difícil me imaginar nesse papel''.

Apesar de faltar um bocado de tempo para as próximas eleições norte-americanas, que só se realizarão em 2008, é impossível deixar o tema fora da mídia. Os republicanos estão arrepiados com a possibilidade da candidatura de Hillary e criaram até o Comitê de ação política parem Hillary. Não conseguem admitir a possibilidade de um novo reinado dos arquiinimigos Clinton na Casa Branca.

A socióloga e senadora Clinton, de 57 anos, está na frente dentro de um grupo de possíveis candidatos democratas. Bate John Kerry e o companheiro de chapa nas últimas eleições presidenciais americanas, John Edwards, por 39% a 21% nas preferências, segundo pesquisa da Marist Poll. É consenso, porém, entre os especialistas, que ainda é cedo para que essas pesquisas avaliem, de fato, o nome com maior apoio.

Condoleezza, uma cientista política ultraconservadora de 50 anos, absolutamente leal aos Bush, ex-reitora da renomada Universidade de Stanford, desempenhou, no primeiro governo do presidente republicano, papel predominante na guerra do Iraque. Como Conselheira de Segurança Nacional, colocou lenha na fogueira favorável à decisão unilateral de invasão.

Agora, ocupando o cargo de Secretária de Estado, brilha nos meios conservadores, principalmente por causa da cobertura positiva que recebeu depois de seu périplo pela Europa e Ásia. Para se ter uma rápida idéia de suas controvertidas posições, basta ler o artigo Power matters (''O poder conta'') que escreveu há cerca de cinco anos, sintetizando as ações internacionais que seriam adotadas depois pelo governo Bush. Resumidamente, prega que nas relações internacionais o exercício do poder, para os países que o têm, é legítimo mesmo quando motivado estritamente pelo interesse próprio. Desenha-se para as eleições presidenciais de 2008, nos Estados Unidos, país em que o voto feminino só foi permitido em 1920, um cenário eleitoral novelesco onde as protagonistas, quebrando preconceitos e paradigmas, prometem travar emocionante combate pelo destino da Casa Branca.