Título: Inca inaugura banco nacional de tumores
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 12/04/2005, Saúde & Ciência, p. A12

Projeto inédito visa a individualizar o tratamento da doença

Um dos projetos mais importantes para as pesquisas sobre câncer será iniciado na quarta-feira, dia 20, quando será inaugurado o primeiro Banco Nacional de Tumores e DNA, no Rio. O banco, instalado no Instituto Nacional do Câncer (Inca), é a unidade inicial de uma rede e vai armazenar amostras dos cânceres mais comuns no país - esôfago, pulmão, próstata, cabeça e pescoço e mama - para tornar os diagnósticos e tratamentos mais precisos caso a caso. Carlos Gil Ferreira, oncologista clínico do Inca e coordenador do projeto, explica o objetivo de se fazer um estoque de fragmentos de tecidos:

- Poderemos descobrir, por exemplo, em um paciente que tem câncer de mama, qual o subtipo da doença que ele tem e a partir daí individualizar as terapias. Ou seja, descobrir qual tratamento é mais adequado para cada indivíduo e futuramente tratá-lo com base no seu perfil genético - diz.

Além de pedaços de tumores, serão estocadas seqüências de DNA que serão geradas das amostras, como auxílio à pesquisa. O projeto está instalado no Centro de Pesquisas do Inca - onde há espaço para 48 mil amostras. Mas estabelecerá uma rede de coleta e processamento de amostras em 20 centros médicos universitários e hospitais, nas cinco regiões do país. Os outros centros ainda não foram definidos e serão selecionados de acordo com a capacidade de recrutar pacientes e da disponibilidade de pessoal treinado.

O caráter nacional é um dos elementos mais fundamentais do empreendimento:

- Há outro banco em São Paulo, mas esse é o primeiro com amostras de todo o país. É interessante que se faça esse tipo de estudo no Brasil, cuja população é heterogênea (com negros, pardos, brancos e amarelos). Existe uma tendência mundial de fazer esses bancos e aqui há essa vantagem da população- diz o coordenador. - O que se pretende é, no futuro, associar características físicas e populacionais a alterações genéticas de tumores - completa Ferreira.

Além de abrir o banco, o Inca inicia também na próxima semana a coleta de tecido.

- Num primeiro momento isso só será feito com pessoas com câncer de cabeça e pescoço, pacientes do Inca e que vão ser operadas - informa Ferreira. O oncologista salienta que não há procedimento adicional para recolher amostras, que só serão retiradas com consentimento do paciente. Os fragmentos serão retirados durante a cirurgia para extração do tumor e guardados em tanques com temperatura de 80º negativos para estudos futuros.

Segundo Ferreira, esse é um estudo piloto para testar se a estrutura do banco está adequada, mas depois a coleta vai se estender a outras regiões e a outros tipos de câncer. O banco terá médicos, enfermeiros, técnicos e bioinformatas (especializados em programas que analisam seqüências genéticas).

O banco dará condições, ainda, para que pesquisadores de fora possam pleitear amostras para estudos. O projeto recebeu US$ 4 milhões da Fundação Swiss Bridge e recursos da Financiadora de Projetos (Finep).

Para o câncer de mama, o mais comum no país, não há apenas o banco como novidade no tratamento. Especialistas em oncologia reunidos no I Congresso Latino Americano de Oncologia, em Foz do Iguaçu, decidiram formar o primeiro grupo cooperativo de pesquisa nessa disciplina do país. Os oncologistas José Bines, do Inca, Carlos Barrios, professor da PUC-RS, e Sérgio Simon, do Hospital Albert Einstein (SP), coordenam um projeto que engloba 11 centros de pesquisa. O objetivo é iniciar, em junho, um estudo sobre novas drogas, entre elas a Capecitabina (Xeloda), para melhorar a sobrevida e a probabilidade de cura.

Também foram apresentadas no congresso pesquisas sobre a eficácia de medicamentos usados após a retirada de tumores. Um deles é o Letrozol (Femara), que recebeu aprovação da Vigilância Sanitária no dia 22 de março para ser vendido no Brasil. Pesquisas no Canadá mostraram que a droga - indicada para mulheres na pós-menopausa que completaram cinco anos de quimioterapia padrão com o Tamoxifeno - reduz em 42% os riscos de reincidência e 39% de o câncer de mama atingir outros órgãos.