O Globo, n. 31480, 15/10/2019. País, p. 5

Disputa entre Bolsonaro e Bivar envolve Recife

Gabriel Garcia


A queda de braço que colocou em campos opostos o presidente Jair Bolsonaro e o dirigente nacional do PSL, Luciano Bivar (PE), tem um ingrediente regional: a disputa pela prefeitura do Recife. Maior colégio eleitoral de Pernambuco, com mais de um milhão de eleitores, a cidade é reduto de Bivar, ex-cartola do Sport Clube do Recife. O presidente do PSL estuda uma candidatura própria ou de um aliado, embora publicamente diga que considera cedo para discutir nomes. Bolsonaro, por seu lado, quer emplacar o presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Gilson Machado Neto, na briga para suceder o prefeito Geraldo Júlio (PSB).

Machado já foi orientado pelo presidente a mudar seu domicílio eleitoral de Gravatá, cidade localizada a 80km da capital pernambucana, para o Recife. Ele tem até abril do próximo ano para fazer a mudança, na esteira da janela de transferência autorizada pela Justiça Eleitoral. Machado é formado em medicina veterinária pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), além de criador de gado em Tocantins.

O ruralista não esconde a disposição em concorrer à prefeitura. No Recife, ele se considera o legítimo herdeiro do bolsonarismo na eleição marcada para outubro de 2020, com discurso afinado com o do presidente. Machado tem criticado a esquerda e defendido as bandeiras de Bolsonaro, considerando o Estado “ideologicamente contaminado”.

Dizendo-se um homem de missão, Machado afirma que está focado no objetivo de melhorar os números do turismo no Brasil, mas que atenderá a um pedido de Bolsonaro, caso seja confirmado.

— A prefeitura não precisa ser decidida agora. Quem tem prazo não tem pressa. Sou de missão, como sempre fui. Não é de hoje que estou ao lado do presidente, para o que der e vier —disse.

Na onda de 2018

Machado diz que no momento vai se concentrar no trabalho na Embratur. A isenção de visto a chineses e indianos é uma das medidas estudadas para estimular o turismo.

A definição dos candidatos a prefeito nas principais cidades do país tem sido um dos pontos de maior conflito na disputa que pode culminar com a saída do presidente da República do PSL. Bivar tem conquistado apoio de parlamentares na briga com Bolsonaro fazendo a promessa de entregar o comando de diretórios estaduais e municipais e a legenda do partido para a disputa eleitoral. Já Bolsonaro faz questão de ter poder de veto sobre os nomes que disputarão as prefeituras pelo partido em que ele estiver.

No ano passado, Bivar foi eleito deputado federal, o sétimo mais votado em Pernambuco, surfando justamente na onda de popularidade que levou Bolsonaro à Presidência. Em 2014, ele também concorreu a uma cadeira na Câmara mas não conseguiu se eleger.

Como parte do acordo para abrigar Bolsonaro no PSL, Bivar deixou o partido sob o comando do ex-ministro Gustavo Bebianno, então aliado do presidente, durante a campanha do ano passado. Retomou o controle no início deste ano, recebendo de volta uma legenda com fatias milionárias dos fundos partidário e eleitoral, graças à maciça eleição para a Câmara. Com o partido enriquecido, precipitaram-se as brigas entre Bivar e Bolsonaro pelo controle efetivo da sigla.