O Globo, n.31.622, 05/03/2020. País. p.12

Gabinete de Eduardo criou página de ataques a rivas dos Bolsonaros
Isabella Macedo 
Bruno Góes


 

Uma das páginas envolvidas em ataques virtuais investigadas pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News foi criada com um e-mail utilizado pelo gabinete do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O perfil no Facebook, que tinha o nome de “Bolsofeio”, saiu do ar durante a tarde de ontem, mas foi citado em depoimento da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) como uma das principais contas usadas para atacar o Supremo Tribunal Federal (STF), jornalistas e adversários políticos da família Bolsonaro.

A informação foi publicada ontem pelo Uol e confirmada pelo GLOBO. Os dados foram enviados à CPMI pelo Facebook em resposta a um pedido do deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE), apresentado após o depoimento de Joice Hasselmann. Quando prestou depoimento à comissão, a deputada havia dito que reuniu informações sobre perfis no Twitter, Facebook e Instagram e que Eduardo estava “amplamente envolvido” na coordenação de ataques virtuais.

O e-mail usado para criar a conta é mantido pelo assessor Eduardo Guimarães e consta como endereço de contato em prestações de contas apresentadas pelo gabinete de Eduardo Bolsonaro à Câmara. A página “Bolsofeio” foi criada em um computador localizado na Câmara e, até sair do ar, publicava ataques e montagens de outros políticos, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Questionado ontem sobre os dados enviados à CPMI, Eduardo Bolsonaro respondeu em tom irônico:

—Estou pensando o que eu vou fazer, estou pensando o que fazer. Olha, mas... qual infração foi cometida? Mandar esse pessoal catar coquinho. Eu vou dar um aumento para o meu funcionário, se isso aí for verdade.

Mais tarde, em um vídeo publicado nas redes sociais, o deputado negou ter criado uma milícia virtual para disseminação de fake news e ressaltou que o conteúdo da página “Bolsofeio” é de humor. Eduardo afirmou ainda que seu assessor vai continuar no gabinete. “Eu não dou ordens a ele em relação a esse perfil que ele tem, mas a gente não pode dizer que isso é um crime, que na verdade não é”.

Em dezembro do ano passado, quando prestou depoimento à CPI, Joice Hasselmann afirmou que assessores e o próprio deputado estavam envolvidos na coordenação de uma rede de ataques, que chamou de “gabinete do ódio”.

— As instruções são passadas, principalmente pelo Eduardo e assessores ligados a ele. O Carlos (Bolsonaro) também teve muita atividade, mas agora ele está mais com o freio de mão puxado.

Autor do requerimento de pedido de informações ao Facebook, o deputado Túlio Gadêlha afirmou que a revelação dá um passo importante na investigação ao apontar que há disseminação de fake news e ataques de reputações partindo de um gabinete parlamentar, mas ainda é preciso investigar mais a fundo:

—Se isso for confirmado, é muito sério mesmo. Mas precisamos ter mais informações sobre o e-mail cadastrado nessa conta, por exemplo. É importante quebrar o sigilo telemático e o telefônico do número cadastrado. Todos esses requerimentos nós vamos apresentar o quanto antes para isso ser aprovado na CPMI na próxima semana.

LIDERANÇA PERDIDA

Em mais um capítulo da briga interna no PSL, Eduardo Bolsonaro foi destituído ontem da liderança da sigla. O posto passou a ser ocupada por Joice Hasselmann. A mudança só foi possível porque o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, reconheceu a decisão do presidente nacional da sigla, Luciano Bivar, pela suspensão da atividade partidária de 12 deputados bolsonaristas pelo período de um ano.

O documento que desalojou Eduardo da liderança, também reconhecido por Maia, contou com 21 assinaturas, número mínimo exigido para a mudança. Com a decisão de Bivar, referendada por Maia, a bancada de 53 representantes da legenda passou a contar com apenas 41 deputados.