Título: Alta de preços castiga mais o idoso
Autor: Sabrina Lorenzi e Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 12/04/2005, Economia & Negócios, p. A18

Desde 1994, inflação anual da terceira idade foi 1,39 ponto percentual superior à da média da população, aponta FGV

A inflação castigou o bolso do idoso em um peso anual 1,39 ponto percentual superior à média da população desde 1995. Esta é a conclusão da Fundação Getúlio Vargas, ao realizar a primeira divulgação oficial do Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3I), criado com o objetivo de medir o impacto da alta dos preços nas famílias em que pelo metade dos integrantes tem mais de 60 anos.

O índice é uma variação do IPC, da FGV, que calcula a inflação geral dos preços no varejo. Conforme antecipou o JB em dezembro, nos últimos dez anos, a alta de preços acumulada para essas famílias é quase 18% superior ao verificado pelo IPC nas famílias em geral. No período, os preços subiram 226,14% para os idosos, e a inflação dos demais segmentos foi de 166,5%.

Responsáveis pelo maior peso na cesta de consumo da população, os gastos com habitação são ainda maiores para o idoso. E, por isso, eles são os mais afetados pela elevação de preços administrados (cujos reajustes são determinados pelo governo). Gastos com habitação representam 33% da renda dos mais velhos, contra 31% das famílias em geral, com destaque para contas de luz.

- Acredito que, como fica mais tempo em casa, na maioria dos casos, o gasto com tarifas de energia elétrica e telefonia acabam sendo maiores. E como os administrados subiram acima da média inflacionária nos últimos anos, a inflação da terceira idade acompanhou essa média - avalia o economista Andre Braz, da FGV.

Outra razão que pode explicar a inflação da terceira idade é a certeza da renda garantida, acredita o economista Marcelo Neri, da FGV. Ele destaca que 16% de todo o rendimento que gira na economia brasileira provêm de aposentadorias e pensões, perdendo apenas para os ganhos com trabalho

- Há um ganho maior na terceira idade. Acho que existe uma certa inflação de demanda nesta faixa etária.

Outra grande diferença na cesta de consumo do idoso é verificada no item saúde. A fatia do orçamento destinada a medicamentos e planos de saúde, que na média é de 10,36%, chega a 15,03% dos gastos dos idosos.

Apesar de amargar inflação mais alta ao longo dos últimos 11 anos, a terceira idade sentiu uma taxa mais amena dos que a da média da população no primeiro trimestre do ano. O IPC-3I ficou em 1,79%, taxa inferior aos 1,99% do IPC-BR. Com gratuidade nos transportes, a população de terceira idade não absorveu reajuste de 17,5% nas passagens de São Paulo, o carro-chefe da inflação no período.

A alta nos preços ao consumidor de terceira idade ao longo dos dez anos foi sentida no orçamento do aposentado Renato Claudio Alves, de 67 anos. Mesmo com renda mensal de R$ 5 mil, garantida pela permanência no mercado de trabalho como economista, os gastos com a saúde passaram a consumir 40% do orçamento.

Com hepatite C e problemas cardíacos, Renato passou a gastar menos em lazer. A saída, segundo ele, foi assistir a vídeos e DVDs em casa e ler livros em vez de sair.

- Não posso deixar de pagar meus planos de saúde e comprar meus remédios. Os medicamentos estão cada vez mais caros - explica.

Amélia Dias da Silva, de 75 anos, depende dos cerca de R$ 400 que ganha por mês de aposentadoria e da boa vontade dos filhos. Sem condições de bancar um plano de saúde, ela conta com a ajuda deles para comprar remédios, que custam R$ 450 por mês.

- Passo parte do dia no térreo do prédio para não gastar luz em casa - diz a aposentada, que mora em Vila Isabel.