Título: Paz entre Casa Civil e Fazenda
Autor: Ana Maria Tahan, Marcus B. Pinto e Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 11/04/2005, País, p. A3

Diferentes por formação e ideologia, o advogado José Dirceu e o médico Antonio Palocci firmaram um armistício dentro do governo. O encontro do campo majoritário do PT encerrado ontem, no Rio, mostrou os dois em concordância com linhas de ação de seu partido, tanto em relação ao governo quanto à eleição de 2006. O acordo de não-agressão foi selado nas últimas semanas, na casa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após um forte desentendimento na Granja do Torto, em Brasília, que parecia insuperável. Por mediação direta do chefe, os dois conversaram de forma dura, franca e selaram a paz. Se for levada a sério, este fato tende a contribuir para amainar a tensão entre os dois mais fortes homens do presidente. O vértice principal da disputa é a política econômica tocada pela Fazenda de Palocci, que é combatida pela implacável mão da Casa Civil de Dirceu.

- O presidente não pode mudar a macroeconomia - reconheceu, resignado, o ministro Dirceu a interlocutores.

A insatisfação de Dirceu com Palocci teve como gota d'água o binômio juro-superávit nas alturas. No ano passado, o ministro da Fazenda teria prometido que a taxa Selic cairia, como forma de convencer o restante do governo a elevar o superávit primário para 4,5% do PIB. Não cumpriu.

E isso irritou de de forma profunda o chefe da Casa Civil, que reagiu e quase deu-se o rompimento. Ainda mais quando os próprios bancos avisaram à cúpula do governo que havia espaço para os juros despencarem para cerca de 13% ao ano, mas estão na estratosfera de 19,25%.

Dirceu também não perdoa Palocci pela desastrada edição da MP 232, que provocou uma enorme crise na Câmara. O ministro da Fazenda não teria consultado outros ministérios e os partidos no Congresso, mesmo que precisasse votar uma série de aumentos de impostos sobre a agroindústria e prestadores de serviços. Tudo justo na medida provisória que corrigiria a tabela do Imposto de Renda em 10%.

A pacificação entre a Casa Civil e a Fazenda é peça-chave na reorganização da base governista no Parlamento. É por isso que Dirceu ficará mais com a parte da gestão da Esplanada, enquanto a negociação política dentro das bancadas fica ancorada nos senadores Fernando Bezerra (PTB-RN) e Aloizio Mercadante (PT-SP) e no deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que respondem respectivamente pela liderança do governo no Congresso, no Senado e na Câmara.