O Globo, n.31.620, 03/03/2020. Economia. p.17
Crescimento em 12 estados do país
Pedro Capetti
A economia brasileira segue crescendo lentamente, masa expansão está disseminada. Dados do IBC-Br, indicador produzido pelo Banco Central e considerado uma espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB), mostram que, no ano passado, 12 dos 13 estados acompanhados pelo indicador do Banco Central apresentaram avanço da economia local. Apenas o Espírito Santo, influenciado pelos efeitos do desastre em Brumadinho (MG), ficou no vermelho.
O indicador do Banco Central busca antecipar os números oficiais do PIB por estado. O IBGE divulga estes dados, mas com defasagem de três anos em relação ao PIB nacional. O IBC-Br, porém, não acompanha todas as unidades da federação.
Nos cálculos do índice do BC, o país cresceu 0,88% no ano passado. O número oficial será conhecido amanhã, com a divulgação das Contas Nacionais, do IBGE. A expectativa do mercado está em 1,1%.
Os números indicam que o crescimento em boa parte dos estados foi calcado no setor de comércio e serviços, os únicos com avanço em 2019. Em São Paulo, responsável por cerca de 30% de tudo o que é produzido no país, foram esses dois grupos os responsáveis por puxar a economia, assim como no Amazonas, estado com maior avanço no ano, de 4,61%.
No Rio de Janeiro, no entanto, foi a retomada da indústria de óleo e gás, com avanço dos campos do présal, a responsável por tirar o estado da recessão após quatro anos. O estado fluminense terminou o ano com crescimento de 1,34%, acima do desempenho nacional.
Mesmo com o resultado mais espalhado territorialmente, o motor do crescimento nacional foi São Paulo. O estado terminou o ano com 2,75% de expansão, ritmo equivalente a três vezes o do país. Foi o terceiro ano de expansão do estado.
IMPACTO DE VAREJO E SERVIÇO
A indústria paulista sofreu coma desaceleração global e impacto da crise da argentina, com alta de 0,2%, em 2019, mas o ano foi positivo para os outros dois setores no estado, com alta de 2,4% no varejo, e de 3,3%, nos serviços.
— A economia paulista ganhou tração desde o segundo trimestre do ano, de forma gradual, embora os resultados de curtíssimo prazo sintetizem o quadro geral de frustração com o ritmo de crescimento econômico no fim do ano passado —explica Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria.
Apesar dos resultados positivos, o nível de atividade de São Paulo está 4,2% abaixo do pico de atividade, registrado em setembro de 2013, segundo estudo do pesquisador Marcelo Balassiano, da FGV/Ibre. Nesse quesito, apenas Santa Catarina recuperou nos últimos anos todo o prejuízo da recessão no biênio 20152016, beneficiado pelo desempenho da fabricação de máquinas e equipamentos na indústria. No ano passado, enquanto o setor fabril brasileiro recuou 1,1%, esse grupo no território catarinense avançou 2,2%.
Já o crescimento de 1,34% da economia fluminense ainda não está disseminado. De acordo com Balassiano, setores como comércio e serviço apresentam recuperação mais lenta da atividade. Enquanto o varejo terminou o ano com alta de 0,5%, a oferta de serviços, responsável por metade da produção do estado, terminou 2019 com retração de 0,5%, na contramão do país. Foi o quinto ano no vermelho deste setor, segundo dados do IBGE.
—Voltar aos níveis anteriores à recessão ainda será uma tarefa árdua. E reverter esse cenário, principalmente no setor de serviços, é fundamental para a economia fluminense crescer mais —afirma Balassiano.
Para Lucas Tristão, secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico e Emprego, o PIB fluminense deve melhorar nos próximos anos com a expansão do mercado de gás e com o fomento no setor de serviços e comércio. Ele afirma que estão sendo criados incentivos para permanência e chegada de novas empresas, ampliando a geração de empregos.
— Temos criado uma cadeia de valor do gás agregado para trazer indústria petroquímica, papel, fertilizante, automotivo, que usam o gás como um dos principais insumos da sua cadeia produtiva —ressalta.
A economia do Rio ainda está 7,4% abaixo do maior nível de atividade econômica já registrado, atingido em janeiro de 2015. E, caso o ritmo de crescimento fluminense de 2019 se mantenha, o Rio só atingiria o patamar recorde no primeiro semestre de 2024.
Do lado negativo, Minas Gerais e Espírito Santo sofreram com os efeitos gerados pela tragédia do rompimento da barragem de rejeitos da Vale, em Brumadinho (MG), afetando toda a cadeia da indústria extrativa de minério de ferro, incluindo a exportação pelo Porto de Tubarão. Enquanto o estado mineiro cresceu apenas 0,57%, menos que em 2018, a economia capixaba teve retração de 1,28%.
RITMO LENTO NO NORDESTE
Já Bahia e Pernambuco, por sua vez, seguem em ritmo de crescimento mais lento do que as outras localidades em razão da incipiente recuperação da produção industrial e do baixo dinamismo do mercado de trabalho, marcado pela informalidade. Outro fator que influencia é a dependência da região de grandes projetos de investimentos, até então feitos com dinheiro público.
— A retomada do Nordeste, se vier, será do investimento privado. O investimento público não será o carro-chefe. Sendo a região mais pobre, acaba tendo o desemprego maior e sofrendo mais, mas a curto prazo não há solução pra isso — diz Balassiano.
Para 2020, segundo estudo da Tendências Consultoria, a perspectiva de maior expansão da economia brasileira não será suficiente para garantir a todas as regiões do país a recuperação do nível de atividade verificado no período anterior à crise. Enquanto Norte, Centro Oeste e Sul serão os únicos a exceder o PIB registrado antes da recessão, as regiões Nordeste e Sudeste ainda estarão longe de superá-lo.
Para este ano, o patamar do PIB ainda deverá ficar inferior ao registrado antes da crise, em 2014, podendo ser ainda mais afetado em razão dos efeitos do coronavírus.
Emprego não acompanha recuperação nos estados
O espalhamento do crescimento econômico, segundo dados do IBC-Br, indicador do Banco Central, ainda não se reflete na queda da taxa de desemprego nos estados. Em nove das 13 unidades da federação acompanhadas pelo índice do BC, houve estagnação ou piora da taxa de desocupação no último trimestre do ano, na comparação com o mesmo período de 2018, segundo dados do IBGE.
O retrato do mercado de trabalho chama a atenção uma vez que engloba os meses de maiores fluxos de contratações, em razão das festas de fim de ano, e corrobora a lenta melhora dos indicadores de emprego no país. As vagas não estão sendo criadas na mesma proporção do avanço da população que está disponível para trabalhar. E, quando geradas, são majoritariamente informais. Em 2019, oito dos 13 estados apresentaram taxa de informalidade recorde.
Segundo Adriana Beringuy, analista do IBGE, o rendimento do trabalho ficou estável em boa parte deles, em virtude da expansão da ocupação nas atividades de baixos salários, muitas vezes atrelados ao avanço do emprego sem carteira de trabalho.
— Em praticamente todo o país, quem tem sustentado o crescimento da ocupação é a informalidade — constata.
Apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Pernambuco apresentaram queda do desemprego no último trimestre. O desempenho mais disseminado no mercado de trabalho paulista reitera movimento de reativação gradual da atividade econômica no estado. São Paulo terminou o ano com taxa de 11,5%, no trimestre encerrado em dezembro, puxado pelo comércio e pela construção civil. Na comparação com o mesmo período de 2018, o índice é um ponto percentual menor.
NO RIO, TAXA RECUA A 13,7%
Já a lenta recuperação da economia fluminense, concentrada na indústria extrativa, ainda tem impacto restrito no mercado de trabalho. A taxa de desemprego recuou de 14,8% no quarto trimestre de 2018 para 13,7% em igual período do ano passado. Ainda assim, trata-se de patamar bastante acima da média nacional (11%). O estado ainda tem 1,5 milhão de pessoas sem qualquer tipo de trabalho.
Segundo o IBGE, Santa Catarina foi o estado com menor taxa de desemprego no ano passado, de 6,1%. Em 2019, o patamar registrado no estado foi 5,9 pontos percentuais menor do que a taxa brasileira. Já a taxa da informalidade foi de 27,3%, bem abaixo da registrada nacionalmente, de cerca de 41%.
De acordo com estudo feito pelo pesquisador Marcel Balassiano, da FGV/Ibre, o estado catarinense foi o primeiro a recuperar o mesmo patamar econômico registrado antes da crise, entre 2015 e 2016.