Título: Primeiro domingo de silêncio
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 11/04/2005, Internacional, p. A7

Pela primeira vez em mais de 26 anos, a praça de São Pedro permaneceu silenciosa em um dia de domingo, dois dias depois da imponente missa fúnebre e do sepultamento do Papa João Paulo II.

Apesar de o silêncio estar estipulado para os períodos de transição entre a morte de um papa e a eleição de outro, alguns fiéis e turistas desinformados se aproximaram da esplanada vaticana na manhã fria e chuvosa para ouvir o Angelus de meio-dia.

- Estamos esperando - disseram Alberto e Mariana, um jovem casal italiano, olhando com insistência para a janela fechada do aposento no Palácio Apostólico, a qual João Paulo II aparecia aos domingos.

Em 26 anos de pontificado, a bênção não foi apresentada pelo papa em apenas duas ocasiões: a primeira no dia 27 de fevereiro, três dias depois de ter sido submetido a uma traqueostomia, e a segunda no domingo passado, dia seguinte a sua morte. Nas duas oportunidades, o arcebispo argentino Leonardo Sandri leu uma mensagem em seu nome.

Ao ser informado de que desta vez não haveria oração nem mensagem, Alberto lamentou:

- É uma pena, de qualquer foram viemos prestar uma homenagem ao Papa.

O casal permaneceu abraçado sob seu guarda-chuva em meio à praça semi-vazia, onde a chuva apagou as velas dos altares improvisados e destruiu os desenhos, fotos e mensagens. Em uma delas ainda era possível ler, em italiano, ''Adeus, Grande Karol''.

A basílica de São Pedro foi reaberta ontem e a espera máxima para entrar era de 20 minutos. A cripta onde está enterrado o corpo de João Paulo II, no entanto, só deverá ser aberta à visitação na próxima semana. A cúpula da basílica e os museus vaticanos também permanecem fechados.

- Voltarei à tarde para a missa - disse Bonnie Zagora, jovem polonesa que veio de Chicago especialmente para homenagear o papa.