Título: Divergência antiga
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/04/2005, Internacional, p. A8
Os protestos chineses refletem a tensão nas relações entre os dois países não superada desde a invasão de parte da China pelo Japão. De um lado, a direita japonesa tem se mostrado irritada pelas repetidas exigências de arrependimento de Pequim e Seul e demonstra cada vez mais seu nacionalismo exacerbado. O desentendimento também têm sido aproveitado por líderes comunistas chineses que vêm promovendo um forte sentimento patriótico e nacionalista. Esses líderes, que angariam a atenção de muitos jovens, sobretudo universitários, afirmam que a China tem mantido atitudes muito ''leves'' em relação ao país que ocupou violentamente parte de seu território, a Manchúria, entre 1931 e 1945.
A tomada da Manchúria - região ao leste chinês que guarda portos importantes, além de minas de carvão - aconteceu em 1931, num contexto de expansionismo do Japão na Ásia, que levaria à Segunda Guerra Mundial. Historiadores afirmam que os japoneses simularam um ataque a forças do próprio país para ter uma desculpa para a invasão da China.
Até 1937, a guerra restringiu-se a pequenos combates. Mas nesse ano, o Exército Imperial Chinês travou um forte embate com os soldados chineses que as aniquilaram, assim como a civis, entre eles, mulheres e crianças. A brutalidade do genocídio envolveu milhares de estupros - há registros que contam de 20 mil a até 80 mil mulheres e crianças -, degolas e outras mutilações, pessoas queimadas vivas ou mortas a golpes de baioneta, entre outras torturas. Fotografias históricas mostram soldados japoneses sorrindo diante dos cadáveres dos chineses.
Esse ficou conhecido como o Massacre de Nanquim e foi o estopim da Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945) - a primeira aconteceu entre 1894 e 1895 e anexou a península coreana ao Japão, assim como Taiwan. A guerra fez prosseguir o expansionismo nipônico pelo território chinês.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do Japão, o país teve de abdicar de seu Exército e sair dos territórios conquistados no Sudeste Asiático e Pacífico. Mas até hoje autoridades chinesas negam que o genocídio tenha ocorrido. A negação das atrocidades da ocupação vem sendo chamada de ''revisionismo japonês'' e se estampa na classificação como ''incidente menor'' do Massacre de Nanquim.