Título: China amplia manifestações contra Japão
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/04/2005, Internacional, p. A8

Chineses querem vetar entrada do país no Conselho de Segurança da ONU

PEQUIM - Espalharam-se pela China os protestos iniciados anteontem contra o Japão em Pequim. Duas cidades do sul chinês fizeram protestos e jogaram tinta, garrafas e outros objetos em estabelecimentos comerciais japoneses. Os manifestantes - até 20 mil segundo algumas contagens - reclamam de uma tentativa de manipulação sobre as atrocidades de Tóquio cometidas na Segunda Guerra Mundial e pedem que esse país não entre no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Na província de Guangzhu, milhares de pessoas - há relatos de 3 mil a até 10 mil manifestantes - tentaram furar o bloqueio policial que protege o consulado japonês. Um diplomata disse que janelas do prédio foram quebradas.

Lojas e restaurantes também têm sido atacados pelos chineses. A TV mostra muitos jovens queimando bandeiras nipônicas, enquanto defendem o boicote de produtos provenientes do Japão. No sábado, dois jovens japoneses teriam sido surrados em um restaurante segundo alguns relatos.

Na cidade de Shenzhen, que faz fronteira com Hong Kong, um grupo de manifestantes, gritando frases contra o Japão, pintou restaurantes japoneses.

A nova demonstração pública começou após o chanceler japonês, Nobutaka Machimura, convocar o embaixador chinês em Tóquio, Wang Yi, pedindo que fizesse uma reclamação formal e tentasse um pedido de desculpas oficial pelas manifestações anti-Japão de Pequim.

- São um problema esses atos de vandalismo, e não apenas contra a embaixada e a residência do embaixador, mas também a firmas japonesas - disse Machimura depois da reunião de meia hora com Wang Yi, na qual o representante da China expressou pesar pelos acontecimentos, mas não apresentou desculpas.

Uma nota oficial do governo chinês afirma que os eventos foram organizados pelos cidadãos ''em protesto contra uma atitude errada que o Japão tomou recentemente'' e pede que os manifestantes fiquem calmos e mantenham suas atitudes dentro da ordem e da lei, ''não se envolvendo em atos excessivos.''

Ontem, um porta-voz do embaixador japonês Koreshige Anami pediu que a China tomasse as medidas necessárias para proteger embaixada, consulados e cidadãos japoneses no país. Também comentou que espera que os incidentes não afetem as relações comerciais e a amizade entre os dois países.

No sábado, 10 mil pessoas reuniram-se em frente à embaixada japonesa e à residência do embaixador do Japão na China, atirando ovos, garrafas e pedras. Logo após o incidente, a embaixada informou que pediria uma indenização por danos e prejuízos ao governo de Pequim.

Os sentimentos antinipônicos têm estado efervescentes desde a quinta-feira, quando Tóquio aprovou um texto de livro escolar que minimizava as ações da brutal ocupação e colonização de parte da China pelo Japão entre 1931 e 1945.

No texto a palavra ''invasão'' não é utilizada e o massacre de 250 mil a 350 mil chineses em Nanquim em 1937 - considerado como uma das piores matanças da era moderna - é classificado como um ''incidente''. China e Coréia do Sul convocaram seus embaixadores em Tóquio para expressar desagrado.

Os chineses também argumentam que como o Japão ainda não reconheceu suas posições dos tempos de guerra não tem responsabilidade suficiente para ocupar um assento do Conselho de Segurança da ONU.