Título: Boa notícia para supermercados
Autor: Cristina Borges Guimarães
Fonte: Jornal do Brasil, 11/04/2005, Economia & Negócios, p. A17
O superintendente do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo, avalia que o aumento do salário mínimo deverá se refletir de forma positiva principalmente para o setor de supermercados. Para ele, os segmentos de vestuário e o restante do comércio, mesmo mais dependente de crédito, também serão beneficiados. No segmento de eletroeletrônicos e móveis, cerca de 80% das vendas são feitas por meio de crediários. Nos setores de confecções e calçados, essa proporção chega a 60%. Solimeo acredita que o reajuste do mínimo deverá levar a um crescimento do volume de vendas à vista.
- Isso será resultado do aumento das vendas de alimentos, pagos à vista, e não de uma mudança do uso dos meios de pagamento - afirma o empresário, que se mostra pessimista, no entanto, quanto à possibilidade de geração de novos empregos no comércio em função do crescimento das vendas. - A criação de novas vagas depende mais do aumento dos investimentos do que do consumo. As taxas de juros atuais inibem os investimentos.
Quanto ao setor financeiro, apesar de acreditar na redução do nível de inadimplência, Solimeu considera que nenhum desses efeitos será tão significativo quanto o impacto sobre o crescimento das vendas de alimentos. De acordo com o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Luis Troster, para as instituições financeiras, o reajuste do mínimo só traz conseqüências positivas, uma vez que resulta em aumento da renda.
- Deve haver redução da inadimplência, ampliação do crédito, aumento da poupança e até um crescimento do índice de bancarização - afirmou, ao explicar que o mínimo é referência para uma série de categorias de renda mais baixa da população, que têm apresentado o maior ganho de renda nos últimos tempos no Brasil.
A maior parte da população que recebe um salário mínimo é de beneficiários da Previdência Social. Apenas cerca de 5% da população ocupada recebem um salário mínimo, de acordo com Borges.
- O rendimento médio dos trabalhadores da indústria, que representam 20% da população ocupada, já atingiu este ano o nível mais alto já registrado desde que a série foi criada em 1995 pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) - disse Braulio Borges, da consultoria LCA, para mostrar que os empregados da indústria já recuperaram as perdas salariais de 2003 e que, por isso, dificilmente outras categorias conseguirão negociar reajustes reais iguais ao determinado para o salário mínimo.
O valor do mínimo não é uma referência para a remuneração paga pela maior parte das empresas privadas, mas no setor público o impacto do piso para os salários formais é relevante. Outro efeito é nas contas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), já que mais da metade das aposentadorias e pensões seguem essa referência. O governo federal estima em R$ 3 bilhões o aumento das despesas previdenciárias este ano em decorrência da elevação do mínimo.