Título: Mínimo reforça consumo em R$ 5 bi
Autor: Cristina Borges Guimarães
Fonte: Jornal do Brasil, 11/04/2005, Economia & Negócios, p. A17
Reajuste real de 8%, que passa a vigorar em 1º de maio, beneficiará compras de baixa renda. Indústria de alimentos comemora
A indústria de alimentos estima que o novo salário mínimo - de R$ 300, que passa a vigorar a partir de 1º de maio - deverá injetar na economia mais de R$ 5 bilhões até o fim do ano. Para o diretor de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), Denis Ribeiro, deste total, um terço deve ser direcionado para o consumo de alimentos. Assim, a indústria espera aumentar as vendas em até 2% neste ano. O salário mínimo maior, além de um efeito direto de aumento da renda, estimulará uma série de impactos indiretos, que vão desde o crescimento do consumo de bens de primeira necessidade até o aumento do índice de bancarização. Também não podem ser descartados efeitos ambíguos, como o maior dinamismo econômico de pequenas cidades.
O aumento do salário mínimo de R$ 260 para R$ 300 a partir do próximo mês representa um reajuste de 15,38%, ou um ganho real da ordem de 8% (acima da inflação). O último aumento do salário mínimo ocorreu em abril do ano passado, quando seu valor passou de R$ 240 para R$ 260. Segundo dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE), 94% do salário dos brasileiros são gastos com o consumo de produtos básicos.
Segundo Ribeiro, apesar de positivo, o anúncio antecipado do aumento do mínimo, associado a uma série de pressões de custo - desde as quebras de safra que levaram à alta do trigo e de outros grãos até o preço das embalagens -, promoveram alguma inflação que corroeu parte deste aumento. O governo estabeleceu, ainda no fim do ano passado, o aumento de R$ 300 do mínimo.
Contudo, na avaliação de Bráulio Borges, da consultoria LCA, o impacto direto do aumento sobre a inflação é praticamente nulo, uma vez que a maior parte desses novos recursos será destinada à aquisição de bens de salário (alimentos e roupas), que para ele não apresentam deficiência de oferta.
Denis Ribeiro, espera que o efeito do aumento do salário mínimo de 1º de maio sobre a venda de alimentos a partir só apresentará resultados a partir de junho.
- Os orçamentos das classes de renda mais baixa contarão com uma liberação extra. Como 45% da população economicamente ativa ganham até três salários mínimos no Brasil, o impacto será significativo - disse Ribeiro, ao acrescentar que todos os segmentos da indústria de alimentação serão beneficiados, especialmente os voltados para produtos da cesta básica.
José Maurício Soares, economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), acrescenta que, como o aumento do salário alcançará em sua maioria aposentados, a compra de medicamentos também pode crescer. Contas atrasadas, como despesas com aluguel, também deverão ser contempladas.
O economista do Dieese considera pequeno, no entanto, o reajuste divulgado pelo governo. Ele lembra que o poder de compra do mínimo continua muito baixo, uma vez que o volume de recursos injetado na economia por este aumento tem impacto muito menor do que o provocado pelo pagamento do 13º salário no último mês de dezembro. Soares lembra que o salário mínimo que passou a vigorar em julho de 1940, de 240 mil réis, valeria hoje R$ 902. E diz ainda que, na segunda metade da década de 50 até 1961, chegou a apresentar poder de compra maior que o mínimo original.