Título: Dívida externa com dias contados
Autor: Sílvia Araújo
Fonte: Jornal do Brasil, 11/04/2005, Economia & Negócios, p. A18

Parcela do débito renegociada em 1994 deverá ser quitada com resgate dos C-Bonds

A dívida externa mobiliária brasileira renegociada em 1994, no âmbito do plano Brady, deixará de existir em pouco tempo. O próprio governo reconhece que o principal papel da chamada dívida velha, o C-Bond, começa a despertar menos interesse do que bônus de prazo mais longo. O título, que nos últimos anos foi responsável pela maior parte da referência do risco brasileiro, hoje divide a atenção dos investidores com o Global 40, um papel mais longo e que faz parte do estoque da chamada dívida nova. O secretário Adjunto do Tesouro Nacional, José Antonio Gragnani, observa que o Global 40 já mostra, muitas vezes, volume de negócios superior ao do C-Bond. A explicação para a redução de liquidez reside no prazo do título.

- Como o processo de amortização do C-Bond já começou, é natural que ele, aos poucos, perca liquidez e os investidores tendam a migrar para títulos com data de resgate mais longa - observa o executivo do Tesouro.

Pelo estabelecido na ocasião da emissão do C-Bond, em 1994, as amortizações começariam em 2004 e seriam feitas em 21 parcelas semestrais (15 de abril e 15 de outubro), a 1/21 do valor de face capitalizado, na época de US$ 6,5 bilhões. Conforme o governo paga parte do principal (valor da capitalização), reduz a quantidade de papéis no mercado e, conseqüentemente, diminui a liquidez do título.

Nos últimos 12 meses, o estoque da dívida renegociada caiu quase R$ 10 bilhões, para R$ 37,499 bilhões. Já a dívida mobiliária total - que inclui a dívida nova - recuou de R$ 177,162 bilhões para R$ 160,960 bilhões. Parte dessa redução, conforme Gragnani, deve-se à variação negativa do dólar, que no ano passado foi de 8,13%. Se mantida essa dinâmica de pagamentos e câmbio, o estoque da dívida velha poderia ser zerado em dez anos. Para isso, segundo o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, é preciso ver se há reservas internacionais suficientes para fazer frente a uma antecipação dos pagamentos.

Outra forma de zerar a dívida velha seria promover uma troca de papéis, como a que foi realizada pelo governo nos anos de 1999 e 2000.