Correio Braziliense, n. 21390, 09/10/2021. Brasil, p. 5

Bolsonaro: Tenho dó

Ingrid Soares 


No dia que o Brasil chegou a 600 mil mortes por covid-19, um grupo protestou contra o presidente Jair Bolsonaro durante discurso do chefe do Executivo na 1ª Feira Brasileira do Nióbio, em Campinas (SP). Assim que o presidente foi chamado ao palco, manifestantes, em sua maioria mulheres do grupo Afronte!, bradaram entre palavras de ordem, como "Fora Bolsonaro". Elas foram retiradas pela organização do evento.

Além de protestar contra as 600 mil mortes por covid-19, as manifestantes lembraram os cortes orçamentários para a Ciência e Tecnologia, o veto à distribuição de absorventes gratuitos e a inflação no país. "600 mil mortes por covid-19 no Brasil. Corte de 92% no orçamento de Ciência e Tecnologia. Bolsonaro vetou o PL de seguridade menstrual. Osso e fome na mesa do povo brasileiro. Viva a universidade pública! Fora Bolsonaro!", gritavam.

O presidente ironizou. "Não vamos nos rebaixar ao nível deles, não. Eu sairei daqui imediatamente se ela me responder quanto são 7 vezes 8. Raiz quadrada de quatro? Saio agora daqui". "São dignos de pena. Temos dó de pessoas que agem dessa maneira, mas é a vida. Nós temos que lutar por eles também", continuou.

Lenços na praia
No Rio de Janeiro, 600 lenços brancos foram estendidos em varais instalados na areia da praia de Copacabana. A homenagem foi promovida pela ONG Rio de Paz. Segundo os organizadores, os lenços foram escolhidos por serem símbolos do adeus e do aceno a distância, além de usados para enxugar lágrimas. Além dos lenços, foram expostas quatro faixas, uma delas com a pergunta "Quem são os responsáveis por essa tragédia?" e outras com as palavras "incompetência", "irresponsabilidade" e "insensibilidade".

"A maior parcela de culpa recai sobre o governo federal, por vários motivos. Em primeiro lugar, a falta de empatia do presidente Bolsonaro. Participou de manifestações públicas, inclusive antidemocráticas, desestimulou o uso de máscara, combateu o distanciamento e o seu governo foi incapaz de criar um gabinete de crise, para que governadores e prefeitos apresentassem ao país uma política comum para o combate a pandemia", criticou Antonio Carlos Costa, presidente da ONG.

Após a manifestação, os lenços serão recolhidos e entregues ao taxista Márcio Antônio do Nascimento. Em outro ato da ONG Rio de Paz, em 11 de junho do ano passado, cruzes foram fincadas na areia, e um homem que criticava a manifestação arrancou algumas delas. O taxista passava pelo local, viu a atitude e entrou na areia para fincar novamente as cruzes. Ele é pai de Hugo, de 25 anos, que havia morrido de covid-19 pouco tempo antes.