O Globo, n.31.621, 04/03/2020. País. p.14
Temporal causa 18 mortes em SP e deixa 30 desaparecidos
Silvia Amorim
Um forte temporal na madrugada de ontem na Baixada Santista, litoral de São Paulo, deixou 18 mortos e mais de 30 pessoas desaparecidas até a noite de ontem. A chuva castigou principalmente os municípios de Guarujá, Santos e São Vicente.
De acordo com a Defesa Civil, entre os mortos estão dois bombeiros que trabalhavam no resgate de um bebê no Morro do Macaco Molhado, em Guarujá, um dos locais mais atingidos pelo temporal.
Imagens da tragédia foram registradas por moradores com aparelhos de celular e divulgadas na internet. Havia cenas de pessoas sendo retiradas de escombros totalmente feridas, outras assustadas dentro de um ônibus enquanto o veículo era tomado pelas águas e ainda as de um lamaçal que invadia barracos ao mesmo tempo em que descia em alta velocidade pelas vielas do Morro do Macaco Molhado.
A realidade tornou-se mais dramática com o passar das horas, entre a madrugada e todo o dia de ontem na região. Entre os mortos, foram identificados os bombeiros Rogério Moraes e Marciel de Souza Batalha.
MORTE DURANTE RESGATE
Moraes tinha 43 anos e havia trocado de turno. Ele fazia parte da equipe que trabalhava no resgate. Foi encontrado com vida, mas não resistiu a uma parada cardiorrespiratória.
O cabo Marciel de Souza Batalha também atuava como bombeiro no Guarujá. Ele morreu enquanto tentava salvar vítimas dos deslizamentos. Pela TV, uma das imagens mais marcantes foi a de bombeiros, emocionados com a notícia da morte dos dois companheiros, enquanto tentavam salvar moradores de uma encosta.
O corpo de Tathiana Lopes foi um dos primeiros a ser encontrados. Pouco tempo depois, os bombeiros localizaram o corpo de seu filho, um bebê que não havia completado sequer um ano de idade.
— Era para ser eu no lugar do Moraes — lamentava um dos bombeiros que chegou ao local da tragédia voluntariamente, assim que soube que o colega de trabalho de anos estava soterrado.
No final da manhã, somente quatro moradias permaneciam parcialmente de pé no Morro do Macaco Molhado. Ao redor delas, tudo foi levado pela lama. Uma cratera se abriu na encosta onde bombeiros procuraram ao longo do dia por sobreviventes. A casa onde morava Tathiana não chegou a desabar, mas foi invadida por lama, que chegou quase até o teto.
IDOSO É LEVADO PELA ÁGUA
Em São Vicente, um idoso morreu tragado por um buraco numa clínica de repouso particular, também durante o forte temporal. Moisés Elias Neto, de 86 anos, dormia quando o chão do quarto em que ele dormia e dividia com outro idoso cedeu. O local foi interditado pela Defesa Civil. A água sob a casa precisou ser bombeada. O outro idoso que dormia no quarto não se feriu .
De acordo com Gustavo Palmieri, secretário municipal de Meio Ambiente e Defesa Civil de São Vicente, o buraco “possivelmente” se abriu porque havia uma infiltração de água embaixo do terreno da clínica de repouso. O lar é vizinho de muro de um prédio que, há cerca de um mês, foi notificado pela Secretaria de Obras por ter uma fenda aberta no subsolo.
— Ainda não sabemos se o buraco da clínica tem relação com o prédio. Mas, como são vizinhos, pode ser que sim. Os laudos vão dizer —afirmou Palmieri.
Outros sete pacientes que estavam no lar durante a chuva —dois homens e cinco mulheres —foram transferidos.
Já em Santos, outra cidade castigada pelo temporal, uma manicure de 35 anos salvou o ex-marido de ser soterrado. Eles são moradores do Morro do Tetéu. Segundo o Cor pode Bombeiros, a mulher usou um amarre tapara quebrara parede e puxar o homem que estava preso em um dos cômodos da casa, atingida pela queda de uma barreira. Parte do imóvel ficou destruída. (Colaboraram Aline Ribeiro e Dimitrius Dantas).