Título: Magnífico exemplo para humanidade
Autor: Antônio Ermírio de Moraes*
Fonte: Jornal do Brasil, 10/04/2005, Outras Opiniões, p. A13

Fé, comunicação e trabalho. Esses foram os traços que mais me impressionaram na exemplar trajetória de vida do papa João Paulo II.

Ao longo de 26 anos de Pontificado, o Santo Padre que foi chamado por Deus, cultivou com impressionante transparência a fé em Cristo e defendeu com todas suas forças os princípios básicos da Igreja, em especial, a salvação do homem por meio da fé e a proteção da família como o ninho da ética, da moral e dos valores básicos da sociedade humana.

O papa Peregrino foi o grande comunicador do século 20. Desde o início de seu Pontificado, entendeu que para fazer penetrar a palavra de Deus na humanidade, era preciso sair de sua casa, e levar as lições do Evangelho aos mais variados grupos em todos os cantos do planeta. Com viagens incansáveis, ele deu os mais inequívocos exemplos de que tinha uma vida dedicada à paz e à união dos povos, de diferentes credos e concepções religiosas. Entrou em todas as igrejas e abraçou todos os seus pastores numa demonstração de que a união entre os homens está acima de rivalidades religiosas, políticas ou raciais.

Na sua rotina diária, João Paulo II deu especial atenção aos jornalistas, respeitando-os como os porta-vozes da palavra da Igreja para as mais longínquas paragens do mundo. Foi com isso que o Santo Padre ganhou a atenção de todos os meios de comunicação, do jornal à Internet. Sua palavra era sempre notícia importante. Suas mensagens eram motivo para análises profundas.

Como trabalhador, João Paulo II foi exemplar até os últimos momentos de sua vida. Ele, que cogitou renunciar em favor de alguém mais saudável para levar avante a palavra de Cristo, recebeu da Graça Divina a orientação de continuar o seu trabalho, pela força que havia demonstrado perante as mais altas autoridades do mundo e pela confiança conquistada junto a todos os povos do mundo.

Ancorado na sua infinita devoção à Virgem Maria, João Paulo decidiu continuar e, inspirando-se em Cristo, carregou sua cruz com manifesto sofrimento e com uma dor que foi transmitida ao mundo com profundidade redobrada. As palavras que não saíram de sua boca nos últimos dias de vida, foram retumbantes, expressivas e suficientemente convincentes para que todos nós que gozamos de saúde trabalhemos firmemente em favor do próximo e dos que mais sofrem, levando avante a sua pregação em favor da paz, da concórdia e da harmonia entre os povos.

Foi a trindade da fé, comunicação e trabalho que comoveu o mundo e promoveu a maior peregrinação de toda a história da humanidade em direção à morada do papa - tudo na mais absoluta ordem e sentimento de irmandade, do jeito que o Santo Padre pregou e queria. Ele ficou feliz.

Pelo seu testamento, o mundo soube que João Paulo II não deixou nenhum bem. Mas a humanidade inteira sabe que o Sumo Pontífice nos legou o que de mais valioso pode existir entre os homens: o cultivo da fé e do trabalho colocado a serviço da paz e da harmonia entre os povos.

Adeus João de Deus. Reze por nós e ilumine os que elegerão o novo papa.

*Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos para o JB