O Globo, n. 31505, 09/11/2019. País, p. 14

Polícia Civil vai à casa de porteiro que depôs no caso Marielle
Rayanderson Guerra


Dois policiais civis da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital foram ontem à casa onde vive o porteiro do condomínio Vivendas da Barra que depôs no caso Marielle, no bairro da Gardênia Azul, Zona Oeste do Rio. O funcionário prestou depoimento à Polícia Civil há cerca de um mês no âmbito das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Os policiais chegaram por volta das 12h30m à residência em um carro descaracterizado. Eles entraram na casa e deixaram o local cerca de dez minutos depois.

Um parente do porteiro avisou aos policiais que ele não se estava em casa e ficou “assustado” com a repercussão envolvendo o seu nome. Na quinta-feira, policiais da DH e peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) já haviam apreendido o sistema de mídia da portaria do condomínio Vivendas da Barra.

O porteiro mora em um sobrado de dois andares e terraço na Gardênia Azul, uma área dominada por milícias na Zona Oeste da cidade. Logo na entrada da casa funciona uma oficina mecânica. Ao chegar no local na manhã de ontem, O GLOBO encontrou dois funcionários trabalhando no local — um deles tem parentesco com o funcionário do condomínio. Questionados se o porteiro estava em casa, eles desconversaram e disseram que não falariam sobre o assunto.

O funcionário do condomínio foi localizado pela revista “Veja”, em reportagem publicada ontem. De acordo com o texto, ele não quis se pronunciar sobre as investigações. “Eu não estou podendo falar nada. Não posso falar nada”, disse o porteiro à “Veja”. Segundo familiares, ele está como um “animal acuado”.

A revista também identificou o outro porteiro do Vivendas da Barra que fala com o PM reformado Ronnie Lessa em um áudio divulgado por Carlos Bolsonaro e periciado pelo Ministério Público do Rio. Repórteres da “Veja” mostraram a gravação para o funcionário. Ele confirmou que a voz é sua. Na segunda-feira passada, o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, revelou que a Polícia Civil sabia que o porteiro que prestou depoimento não era o mesmo do áudio. O Ministério Público do Rio afirmou que o porteiro

“O depoimento do porteiro foi dado à Polícia Civil no início de outubro. O funcionário afirmou aos policiais que registrou a casa de número 58, onde morava o presidente Jair Bolsonaro, como destino do ex-policial militar Élcio de Queiroz, suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. O porteiro também disse que identificou a voz do “Seu Jair” ao autorizar a entrada de Queiroz, horas antes do assassinato. Naquele dia, o então deputado Jair Bolsonaro estava em Brasília, como mostram os registros da Câmara. Na ocasião, Queiroz foi para a casa de número 65, de Ronnie Lessa, e não para a casa 58, de Bolsonaro. O depoimento foi revelado pelo Jornal Nacional.